Em uma rodoviária, Flávio aguardava o embarque no ônibus que o levaria a sua terra natal, quando foi abordado: - Ô, Breno! Tu por aqui. Quanto tempo! Que surpresa boa. Bom te ver mesmo, meu amigo! Como vão as coisas, Breno? - Tudo tranquilo! Só uma coisa: eu sou o Fla... - Como vai a família, Breno? - É Fláv... - Faz tempo que eu não vejo o teu irmão. Como anda aquela fera, Breno? - É Flávio! Meu... - E o teu pai, Breno? Jogando muita bocha ainda? - O pai... - E a mãe? - A mãe... - A vida leva cada um para um lado né, Breno? Para a gente se ver só assim mesmo... - Pois é... - Já está com quantos filhos, Breno? - Flávio. - Nome bonito do teu filho... - É o meu... - Grande, Breno! Bom te ver mesmo. Continua no mesmo emprego? - É... É... Flávio, viu? - Emprego bom hoje em dia está difícil mesmo... - É... - E o futebol? Largou, Breno? - Flávio. - Eu jogo uma bolinha aos finais de semana com o pessoal... Lá no campo da vila. Vê se aparece um dia, Breno... - Eu sou o Flávio. Não Breno... - Putz! Viu ali, Breno? Os ônibus quase se bateram... - É... - Também, tem uns motoristas que vou te contar, Breno... - É... Flávio... - Como eu ia te dizendo, Breno... Aparece lá! - Tá. - Certo que com esse frio está brabo, né Breno? - É... Desisto! - Bom! Vou indo ali que o meu ônibus já vai sair. Bom te ver mesmo, Breno! Manda um abraço para todos lá! - Pode deixar... - Tchau, Breno! Sozinho novamente, Flávio faz a constatação e resmunga para si mesmo: - Bah! O cara trocou o meu nome o tempo todo... Aliás, quem será essa cara? Filho da mãe... Odeio quando trocam o meu nome. É Flávio, pô! Flávio! Ainda, vem cheio de intimidade... Ah! Vai para puta que pariu! Neste instante, Flávio é surpreendido por uma nova abordagem. - Grande, Flávio! Como vai o amigo? - Ô Manoel! Tudo tranquilo! E contigo? - Tudo bem, também... Só o meu nome é Marcos, Flávio! - Putz! Claro, Marcos! Me desculpa! Onde ando com a cabeça? Deve ser a idade... Memória já falhando... Me desculpa! - Não esquenta a cabeça! Isso acontece com todo mundo o tempo todo de esquecer ou trocar nomes... - Pois é... - Mas, diga-me uma coisa: o que estava resmungando aí quando cheguei? - Nada! Nada não... Coisa minha... E a família, como vai?
Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
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