Domingo. Sete e quinze da manhã. Tempo frio e com leve cerração. Dois vizinhos encontram-se no muro de tijolos que divide os dois pátios. - Buenas! - Ó, vizinho... - E esse tempo? Chove ou não chove? - Pois é... Tá estranho... No rádio disseram que não! - Às vezes, eles erram... - Pois é... É verdade! Mas, cerração baixa, sol que racha, já diziam os antigos... - Tomara que não mesmo! Tenho um enterro para ir... - Opa! Quem morreu? - O Lúcio! - Lúcio... Lúcio... Acho que não conheço! - Mora lá na cidade baixa... - Não sei, eu acho... - Casado com a Fátima! - Não sei quem é... - Aposentado da prefeitura... Se aposentou cedo por causa de um problema nas costas. - Assim de nome, não estou lembrando... - Sabe sim... - Pode ser. - É... Foi-se o Lúcio... - Morreu de quê? - Câncer. - Essa doença maldita. - É verdade... Ele enterrou o pai... - Hum... - A mãe. - Hum... - O tio. - Hum... - O Jair... Morreu em um acidente... Filho do... - Pô! Que situação. - Não tenho certeza, mas acho que foi ele também que enterrou o mano... - Hum... Que coisa! - Pois é... Era um bom homem, o Lúcio! Sempre atencioso e prestativo. Deve tá lá com o “homi” agora... - Com certeza! - Fazer o que, né? Todo mundo morre um dia... - Pois é... Pelo menos ele viveu bastante, né? - Que nada! - Como que nada? - Morreu novo. Ele devia estar com uns 54, 55, por aí eu acho... Não mais que isso! - Hum... Novo mesmo... Achei que era mais velho esse Lúcio... Mas que vida, hein? - O quê? - Enterrou todos esses familiares? - Que familiares? - Estes que tu falaste... - Não, criatura! - Não, o quê? - Esses são os meus familiares que ele enterrou. - Como assim? - É que o Lúcio foi por muito tempo coveiro no cemitério municipal...
Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
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