Sala de aula. Prova de química. No “fundão”, sentados lado a lado, Mateus e Eduardo iniciam um diálogo no tom mais baixo possível para não chamar a atenção da professora. - Meu... - Hum. - Mateus... - Fala. Tô ouvindo... - Sabe a quatro? - Qual? Não escutei. Fala mais alto. - A questão quatro. Sabe a resposta? - Não fiz essa ainda. - E a doze? - Também, não! - E a treze? - A. - A? - Isso. - Tem certeza? - Acho que sim. Eu marquei essa. - Acha ou tem certeza. - Tenho certeza. - Eu achava que era b. - Marca a que tu quisé. - Vou de A. Vou confiar em ti. - Eu não estudei muito. Já aviso... - Eu não estudei nada! Há! Há! Há! - Psiu! Fica quieto, mané! A professora vai ver... - Vai nada. Essa aí não vê nada. Olha a grossura das lentes dos óculos dela. Parece um fundo de garrafa! Há! Há! Há! - Há! Há! Há! - Posso saber o que está tão engraçado aí no fundo? - Nada professora! - Nada mesmo, professora! - Fiquem quietos, senão vou tirar a prova de vocês! Dez minutos depois. - Mateus... - Hum. - Sabe a vinte? Falta só essa pra mim. - Qual? Não entendi. - A vinte. Sabes? - Não entendi. Fala mais alto... - A vinte... - Qual? - A vinte, meu! - A vinte é... - O que é isso, Eduardo e Mateus? - O que, professora? - Quié, professora? - Vocês acham que eu sou boba, é? Que eu não ouvi vocês conversando! Tentando colar, hein? Me deem essa prova! - Tá louca, professora? - É... Professora... - O que é então, Mateus? Explica... - O Eduardo enchendo o saco... Tirando sarro da minha cara dizendo que já estava na questão vinte... Que eu sou burro e não terminei ainda! - E? - E eu o mandei tomar na bbbbuuuunda! - O que é isso, Mateus? - Só estou contando o que aconteceu, ora... - Tu já terminaste a tua prova? - Não! Quase... - E tu, Eduardo? - Já, professora! Toma... E tu, Mateus, estou te esperando lá fora para a gente acertar as contas... Ninguém me manda tomar na bunda e fica assim! Silêncio na sala de aula. Furioso, Eduardo deixa o local reclamando e gesticulando com os braços. Parte da turma fica chocada com a sua reação. O restante dos alunos eufóricos pela possibilidade de briga entre os até então amigos. Com a atitude de Eduardo, a professora até esqueceu que fora tirar a prova dos dois estudantes que estavam colando. Oito minutos depois do ocorrido, Mateus termina a prova e deixa a sala, reencontrando Eduardo no pátio da escola. Uma “plateia” assiste ansiosamente a cena esperando o desfecho do episódio turbulento iniciado durante a prova. Mateus e Eduardo param-se frente a frente um do outro. São cercados pelos outros alunos. Olham-se seriamente. Breve silêncio e então... - Há! Há! Há! Dá um abraço aqui, Mateus! - Há! Há! Há! Tu entendeu, né? - Há! Há! Há! Claro, Mateus! Captei vossa mensagem amado mestre, quem nem diria aquele personagem da escolinha do professor Raimundo. Era “B” de bunda a resposta da vinte, né? - Era! Garoto esperto é outra coisa, hein? - Há! Há! Há! - E a professora, Eduardo? Nem se ligou! - Pois é... - Também! Com aquele teu teatro... Convencia qualquer um. Já pode virar ator! Há! Há! Há! - Há! Há! Há! Vou pensar no assunto...
Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
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