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COLUNISTA
Rodrigo Ramazzini
23/03/2013 - 10h00
Roteiro social
 
 

Quando Orlandinho era pequeno perguntavam:
- O que queres ser quando crescer?

Ele respondia:
- Sonho em ser caminhoneiro!

Era reprimido e ouvia sempre como replica:
- Não! Tem que ser engenheiro, médico ou advogado, como era o seu avô.

No futuro, mesmo a contragosto, chegou a começar o curso de Direito.

Quando Orlandinho era adolescente perguntavam:
- Quando vais arranjar uma namorada?

Ele respondia:
- Não sei!

Insistiam:
- E a Tábata? Não vais assumir?

Meses depois, ele assumiu o namoro.

Quando completou 18 anos perguntavam:
- Quando vais arranjar um emprego, Orlandinho? Já está na hora.

Pressionado, começou a trabalhar em uma empresa da cidade.

Quando o namoro completou dois anos, iniciou o questionamento?
- Quando vais noivar, Orlandinho?

E aconselhavam Tábata:
- Ele está só te enrolando. Te cuida!

Orlandinho resistiu um ano. No terceiro oficializou o noivado.

Então, começou a indagação:
- Não marcaram a data do casamento ainda?

Foram três anos de pressão até a oficialização da união na esfera civil e religiosa.

Decorridos um ano e alguns meses de casados, Orlandinho passou a ser perguntado:
- Quando vão ter filhos?

Ainda, recebia o complemento:
- Não vais deixar ficar velho para ter!

Dois anos depois nasceu Júlia, a primeira filha do casal Tábata e Orlandinho.

Quando Orlandinho perdeu o emprego, logo a situação suscitou a questão?
- Já arrumou alguma coisa?

Nos meses seguintes, empregado novamente, a estabilidade profissional despertou outro anseio na sociedade que o cercava:
- Agora que estás bem, quando a Júlia vai ganhar um irmãozinho?

Dois anos depois nasceu Pedro.

A partir daí, então, começaram a alertá-lo para preparar a aposentadoria...

O tempo passou e Orlandinho tinha aos olhos de todos uma família feliz e estruturada. Tinha percorrido o roteiro social pré-estabelecido. Bom emprego, filhos na escola, boa esposa e por aí afora. Triste engano. Em seu íntimo o sentimento era de amargura. A reflexão franca na área de casa mostrara que guiara toda a sua vida pelos outros. Era hora de dar um fim, vencer os medos e opiniões e mudar a própria história.

No dia seguinte, Orlandinho cancelou a matrícula na universidade e pediu demissão do trabalho, e, ontem, foi visto beijando os filhos e Tábata na frente da residência, pois vai passar alguns meses fora. Da boleia do caminhão, usando um chapéu na cabeça, entre acenos e sorrisos, teria dito na partida:

- É hora de trilhar o próprio caminho!


Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
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