Quando Orlandinho era pequeno perguntavam: - O que queres ser quando crescer? Ele respondia: - Sonho em ser caminhoneiro! Era reprimido e ouvia sempre como replica: - Não! Tem que ser engenheiro, médico ou advogado, como era o seu avô. No futuro, mesmo a contragosto, chegou a começar o curso de Direito. Quando Orlandinho era adolescente perguntavam: - Quando vais arranjar uma namorada? Ele respondia: - Não sei! Insistiam: - E a Tábata? Não vais assumir? Meses depois, ele assumiu o namoro. Quando completou 18 anos perguntavam: - Quando vais arranjar um emprego, Orlandinho? Já está na hora. Pressionado, começou a trabalhar em uma empresa da cidade. Quando o namoro completou dois anos, iniciou o questionamento? - Quando vais noivar, Orlandinho? E aconselhavam Tábata: - Ele está só te enrolando. Te cuida! Orlandinho resistiu um ano. No terceiro oficializou o noivado. Então, começou a indagação: - Não marcaram a data do casamento ainda? Foram três anos de pressão até a oficialização da união na esfera civil e religiosa. Decorridos um ano e alguns meses de casados, Orlandinho passou a ser perguntado: - Quando vão ter filhos? Ainda, recebia o complemento: - Não vais deixar ficar velho para ter! Dois anos depois nasceu Júlia, a primeira filha do casal Tábata e Orlandinho. Quando Orlandinho perdeu o emprego, logo a situação suscitou a questão? - Já arrumou alguma coisa? Nos meses seguintes, empregado novamente, a estabilidade profissional despertou outro anseio na sociedade que o cercava: - Agora que estás bem, quando a Júlia vai ganhar um irmãozinho? Dois anos depois nasceu Pedro. A partir daí, então, começaram a alertá-lo para preparar a aposentadoria... O tempo passou e Orlandinho tinha aos olhos de todos uma família feliz e estruturada. Tinha percorrido o roteiro social pré-estabelecido. Bom emprego, filhos na escola, boa esposa e por aí afora. Triste engano. Em seu íntimo o sentimento era de amargura. A reflexão franca na área de casa mostrara que guiara toda a sua vida pelos outros. Era hora de dar um fim, vencer os medos e opiniões e mudar a própria história. No dia seguinte, Orlandinho cancelou a matrícula na universidade e pediu demissão do trabalho, e, ontem, foi visto beijando os filhos e Tábata na frente da residência, pois vai passar alguns meses fora. Da boleia do caminhão, usando um chapéu na cabeça, entre acenos e sorrisos, teria dito na partida: - É hora de trilhar o próprio caminho!
Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
|