Arquivo ER      Evely Reyes e a Dra. Irvênia Prada.

O Instituto de Cultura Espírita do Ceará - ICE organizou nos dias 15 e 16 de setembro do corrente ano o 20º ENESE - Encontro de Estudos Espíritas, que teve como tema central “O ser humano e seus conflitos”.

Os palestrantes foram André Trigueiro, Heloísa Pires, Irvênia Prada e Francisco Cajazeiras.

O primeiro tem atuado como repórter do Jornal Nacional e colunista do Jornal da Globo. Foi âncora do Jornal das Dez da Globo News, é professor e criador do Curso de Jornalismo Ambiental da PUC/RJ, e autor do livro Espiritismo e Ecologia.

Heloísa Pires, filha de J. Herculano Pires, é conhecida internacionalmente como oradora e escritora. Trabalha com deficientes no campo da pedagogia.

Francisco Cajazeiras é médico clínico e cirurgião, professor de Neuroanatomia e Neurociências na Medicina e Psicologia da Universidade de Fortaleza. Presidente da Associação Médica Espírita do Ceará e do Instituto de Cultura Espírita do Ceará é também orador e escritor.

Irvênia Luísa de Santis Prada é professora catedrática e médica veterinária da Universidade de São Paulo - USP, conhecida na comunidade científica mundial por seu trabalho de Neuroanatomia animal.

Tive a oportunidade de me inscrever nesse ENESE e fui presenteada com palestras de altíssima qualidade, que adentraram no campo dos sentimentos, da vida em sociedade, seus conflitos e os resultados desses impasses sob a ótica do ser humano.

O Encontro teve início às 9h00 do sábado e às 8h30 no domingo, com término após as 19h00 nos dois dias, entremeado de apresentações musicais, teatrais, palestras e um espaço para esclarecimento de dúvidas do público por parte dos conferencistas. Os oradores foram excelentes e o tema muito interessante, a ponto de ninguém sentir o passar das horas.

Apesar da presença maciça do auditório, não me contive e fui cumprimentar a Dra. Irvênia Prada, após sua primeira exposição, pois era uma oportunidade imperdível e nos abraçamos como se antigas amigas fossemos.

Para quem deseja argumentar a favor dos animais, nada melhor do que ser leitora de seus livros ou conhecedora de seus pareceres e opiniões nas muitas entrevistas oferecidas. Tudo é alicerçado em embasamento científico, que de forma clara comprova a senciência animal.

Apesar de toda competência, Dra. Irvênia é pessoa simples e muito alegre, que não se deixou levar pela arrogância, diante de tamanho conhecimento. Possui uma didática perfeita para falar sobre a Doutrina Espírita, da qual tem muito conhecimento, pois possibilita a qualquer leigo o entendimento de sua explanação. A experiência de anos e anos de dedicação, aliada a muito estudo na área de Neuroanatomia animal transformou-a em hábil mestra.

Contou-me que no dia anterior havia feito uma palestra no Conselho Regional de Medicina Veterinária daqui do Ceará e lamentou que a famosa Vaquejada de Itapebussu estava prestes a se realizar. Inúmeros seriam os animais submetidos a maus-tratos e crueldades, uma vez que não existem eventos deste tipo que não causem lesões traumáticas, pavor e sofrimento aos bichos.

Não é agradável lidar com a dor, seja a vítima um humano ou um ser não humano! Está provado pela ciência que os animais vertebrados e moluscos têm memória, sentem alegria, prazer, sofrimento e dor, possuindo a capacidade de sentir, raciocinar e escolher.

A anatomia do sistema nervoso que está relacionada com os sentimentos básicos aparece nos mamíferos, nas aves, nos répteis, nos anfíbios e peixes, e nos leva a concluir que por analogia estes vertebrados e os moluscos são sencientes, não sendo mais uma exclusividade dos seres humanos.

Para minimizar a indignação diante do sofrimento a que são submetidos os bichos, Dra. Irvênia Prada menciona que J Herculano Pires, em seu livro “O Mistério do Ser ante a Dor e a Morte” esclarece que o sofrimento dos seres vivos ocorre tal qual um subproduto da evolução, como se a própria transição para uma nova etapa acontecesse anunciada pelas dores de um parto. É preciso um grau de elevação determinado e bastante maturidade para atingirmos essa compreensão, pois é muito triste ser espectador de tanta barbaridade praticada contra os animais.

Emmanuel, numa página psicografada por Chico Xavier, de nome “Animais e sofrimento” explica que os animais não têm débito a resgatar em suas reencarnações como acontece com os seres humanos, mas necessitam passar por essas amarguras como uma etapa de seu amadurecimento. Mas, isto não dá direito ao ser humano de escravizar os animais da forma como ocorre há décadas!

É inegável que o grande causador das mazelas por que passam os bichos é o homem, como bem elucida Cairbar Schutel, em seu livro “Gênese da Alma”, editado no ano de 1924, com os seguintes dizeres: “O orgulho humano cavou um abismo intransponível entre o reino hominal e o reino animal. A falta de estudo, de meditação, de observação, a ignorância presunçosa permitiu destaque do homem, classificando-o como um ser à parte na Criação.”

Penso que ao estarmos diante da prática de um ato de crueldade contra um animal é necessário que manifestemos nossa oposição. Mas se nosso coração não for tocado pela dor e sofrimento dessa vítima, é importante refletir a respeito e avaliar os nossos sentimentos: algo está errado, pois essa indiferença é tal e qual uma conivência!

Melhor assistir alguma palestra da Dra. Irvênia Prada para entender a importância da proteção animal no contexto em que vivemos, pois havendo compaixão pelos bichos, ocorrerá uma nova compreensão e respeito pelos seres humanos com os quais convivemos.

Ela se aposentou em 1995, mas continuou a ser orientadora no Curso de Pós-Graduação em Anatomia dos Animais Domésticos e Silvestres da FMVZ - USP e está há mais de 15 anos, no contexto do "Bem-Estar Animal".

Envolvida na defesa dos bichos, além de palestrante, tem atuado como consultora e articulista, emitindo inclusive pareceres em sua ligação com as muitas entidades de proteção.

Divulga a Doutrina Espírita através de cursos e conferências por todo o mundo e publicou os livros "A Alma dos Animais" e "A Questão Espiritual dos Animais", que tão bem elucidam o tema.

Foi a primeira veterinária mulher a concluir um doutorado no país, em 1970 e ainda hoje continua ousada, na busca por novos caminhos para a mudança de paradigmas, onde todos os bichos possam ser respeitados, numa convivência de harmonia e equilíbrio com os seres humanos.

É uma pessoa iluminada, um referencial de coragem e postura ética em prol de todos os seres vivos!