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COLUNISTA
Ana Soares
09/06/2012 - 10h06
As vezes o amor pode esperar
 
 

Seria um dia normal, como qualquer outro, não fosse o encontro casual com uma garotinha ousada, falante e linda num dia frio e chuvoso.

Na verdade fui eu quem a provoquei...

Cheguei ao ponto de ônibus como de costume e constatei que não encontrei as mesmas pessoas e acho que pelo próprio costume, me vi sentindo falta delas... Estava ali: eu, um garoto e a garotinha ousada, falante e linda, quando quase acidentalmente, perguntei a ela: - Onde foi parar todo mundo hoje? E ela com um sorriso largo no rosto, desembestadamente começou a falar:

- Acho que não saíram de casa por causa da chuva, eu mesma não deveria estar aqui se não fosse a minha prova de português, pois tenho sinusite e minha mãe me deixa em casa toda vez que o tempo muda assim...

Achei-a no primeiro momento falante demais, mas não parou por aí, logo continuou:

- Você conhece um menino que se chama Rafael Sato?

- Não, respondi a ela... E logo ela respondeu:

- Você tem cara de quem é amiga do Rafael Sato, por isto perguntei... Por que você conhece outro garoto que conhece ele, pois te vi conversando com ele dia destes aqui.

Pude perceber neste momento então, que estava sendo observada por ela há alguns dias e nem tinha me dado conta disto... Eu, parada ali, olhando atentamente aquele rostinho dócil, meigo e astuto, pensei: Não me lembro...

Mas ela prosseguiu insistindo, até que minha memória me revelou o tal menino: Era o Mateus, meu sobrinho... Após minha revelação a tal garota, presenciei um suspiro seguido de um: Eu amo o Mateus! Esta frase parecia representar a ela, uma revelação bombástica, algo sério, temível, que ela entregara ali a mim, assim: de bandeja e com algum acréscimo: Sou muito nova pra ele e ele nem sabe que eu gosto dele, na verdade, ele conhece mesmo a minha irmã, que é a namorada do Rafael Sato...

Aquele desabafo tão sério, tão importante, tão revelador de uma menina de nove anos, me fez segurar um riso que estava pronto a explodir, não por chacota, nem por desprezo, pelo contrário, pois eu senti a seriedade do assunto...

Prestando muita atenção, depois de ouvi-la com toda seriedade e respeito, eu a encorajei:

Hoje você só tem nove anos, são seis anos de diferença que se faz grande agora, daqui algum tempo não mais, já que as meninas amadurecem muito mais cedo dos que os meninos, logo, logo, esta diferença de idade não representará nenhum problema, mas isto, só daqui alguns anos e quem sabe, se daqui alguns anos você não será minha nova sobrinha?

Neste exato momento ela soltou um riso largo e grato e o meu ônibus chegou...

A vida é assim!

E o amor, quem sabe? Às vezes o amor espera, não na tentativa branda de esperar, mas se guarda, congela, simplesmente para reacender depois, quando tiver que ser! É eu acho que assim o amor pode esperar!

Ah queria amar sempre assim... Feito uma criança! Sem reservas, sem pressa, sem vergonha, simplesmente amando do melhor jeito, sob o melhor ângulo: um amor inocente e inofensivo! Amor de criança é assim...

Quanto a menininha: ousada, falante e linda? Vou guardar a coragem, a seriedade e a inocência dela em relação ao amor... Quem foi que disse que criança não sabe amar? Pra ela, isto sim, é amor!


Nota do Editor: Ana Crivelari é formada em Gestão Financeira, porém, desde menina desenvolveu grande paixão pela leitura e escrita. Hoje mantém aceso o seu espírito poético divulgando os seus trabalhos em sua página. Participou da coletânea de dois livros: Gandavos – Contando outras histórias e Considerações sobre a arte de escrever e outras crônicas.
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