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COLUNISTA
Evely Reyes
25/11/2011 - 09h13
Um caso extremo
 
 

Num domingo, dois dias antes do feriado de 12 de outubro, logo após o almoço assistíamos a um filme, naquela tranquilidade que o Sítio Arca de Noé emanava quando de repente os cachorros começaram a latir.

Identificando-se como morador do bairro da Pedreira ele estava ali no portão pedindo socorro para um cavalo que havia sido atropelado na rodovia BR-101 e que teria sofrido fratura da coluna.

Em razão do feriado prolongado nada estava funcionando na cidade de Ubatuba-SP: não havia plantão da Vigilância Sanitária, nem do Centro de Controle de Zoonoses ou de qualquer outro órgão que pudesse tomar alguma providência.

Alguém provavelmente sugeriu a APAUBA - Associação Protetora dos Animais de Ubatuba para resolver a questão e lá estava aquele homem bem à nossa frente, desesperado.

Segundo soubemos, o infeliz animal foi jogado para fora da pista após ter sido atingido por um caminhão em alta velocidade e estava agonizando. Era uma cena horrível de se ver e já no local tentamos contatar os veterinários que conhecíamos, mas os celulares apresentavam aquela famosa gravação que remetia à caixa-postal.

Dirigimo-nos às clinicas veterinárias e inclusive à casa do então secretário de Saúde, na tentativa de conseguir o anestésico necessário para ser aplicado no cavalo, mas não obtivemos êxito.

Sem ter a quem recorrer, solicitamos o apoio de um policial rodoviário federal que encontramos e que nos esclareceu que em situações de extremo sofrimento por parte do animal atropelado era utilizado como último recurso o “tiro de misericórdia”.

Aquelas palavras caíram qual uma bomba em nossas cabeças. Mas o que poderíamos fazer ou apresentar como alternativa se o próprio CCZ não tinha veterinário, estava fechado e as clínicas particulares não estavam abertas?

O tempo passava, o cavalo agonizava e nada de efetivo havíamos conseguido fazer. A população do bairro aglomerava-se naquele trecho do acostamento um pouco mais largo, em parte consternada, em parte ansiosa pelo desfecho da situação.

Diante do drama, mantivemos contato com o secretário de Saúde para chegar num consenso, pois na falta do CCZ e da Vigilância Sanitária, ninguém melhor que ele.

Anoitecia e era fundamental que tomássemos uma decisão, pois caso contrário o cavalo permaneceria naquele tormento até o próximo dia útil, quarta-feira.

Após muita reflexão, de comum acordo com o secretário, autorizamos que fosse desferido o mencionado “tiro de misericórdia” pelo policial rodoviário federal.

Uma cena profundamente infeliz, mas que teve o mérito de ter colocado fim a tanta dor e angústia!

Hoje, ao lembrar-me de toda essa história e da consternação geral que ela causou, fico admirada como as atitudes das pessoas podem ser diferentes, apesar de seres humanos.

No último dia 02 de novembro um cavalo teria sido atropelado por um trem, na cidade de Pinheiral-RJ e ficou agonizando pelo bairro até cair numa determinada rua. Os moradores solicitaram o socorro do poder público e tão logo chegou ao local, o coordenador de Defesa Civil do município, o servidor Robson de Oliveira Cassiano simplesmente armou-se de uma marreta, bem como de algo parecido a um pontalete e sem titubear decidiu sacrificar o animal ali mesmo, com inúmeras pancadas em sua cabeça, na parte frontal.

Foi gravado um vídeo, que se encontra postado no www.youtube.com por alguém que não teve a coragem de impedir tamanha brutalidade, onde são percebidas as várias vezes em que o infeliz bicho se contorce diante da prática absurda a que foi submetido.

As cenas são horríveis: de fazer chorar a quem está bem distante dos acontecimentos, do lado de cá da tela, mas não o autor das pancadas, que em nenhum momento demonstrou piedade!

Incrível! Todas as pessoas possuem um coração, que apesar de fisicamente semelhante, tem um diferencial: a energia que o mantém!

Alguns corações estão plenos de amor e permitem a seus donos a manifestação de palavras, atitudes e gestos de bondade; outros estão cheios de um componente desconhecido, que transforma o ser humano numa máquina de fazer sofrer e morrer.

Penso que está no tempo das pessoas refletirem a respeito do porque estão nesse mundo. Não podem e nem devem ter prazer em registrar sua existência com as marcas do desrespeito e do desamor, pois são seres dotados de inteligência e precisam entender que violência só gera mais agressividade para a própria comunidade.

A revelação de sentimentos de compaixão, generosidade, gentileza, altruísmo e respeito tende a desenvolver a reprodução dessas mesmas qualidades de modo contínuo, em progressão geométrica, pois tornam as pessoas mais felizes. Todos querem compartilhar dessa alegria quando a vivenciam!

Se nos colocássemos no lugar do outro no momento da dor, seríamos capazes de entender e distinguir o tipo de sofrimento por ele vivenciado, e paralisaríamos qualquer violação à sua integridade física, por razões óbvias!

Estudos científicos tiveram a oportunidade de constatar que determinados tipos de neurônios de áreas precisas são responsáveis pela ativação de sentimentos como a compaixão e características similares.

Constatou-se ainda que monges budistas, com treinamento adequado induzem essas regiões do cérebro, através de meditação, a se aquecerem ou se resfriarem, permitindo que o metabolismo altere o nível de compaixão, que conforme mais aquecido, maior será!

Que maravilha se pudéssemos treinar as crianças nesse sentido: o mundo daqui uns anos seria muito diferente e cenas criminosas em relação aos seres humanos ou não humanos estariam completamente distantes de nosso cotidiano, pois seriam notícias de um passado longínquo!


Nota do Editor: Evely Reyes Prado, reyesevely@yahoo.com.br, paulistana, formada em Direito pela PUC-SP, morou em Ubatuba por vinte anos, onde aposentou-se pelo Tribunal de Justiça - SP e foi integrante da APAUBA - Associação Protetora dos Animais de Ubatuba. É autora de contos em Antologias diversas, e dos livros “Tudo Tem Seu Tempo Certo” e “Do Um ao Treze”, encontrados através do site www.scortecci.com.br.
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