Uma infância bem vivida traz boas recordações! Saudade dos amigos e das tantas brincadeiras que ainda eram possíveis, na então tranquila rua Dr. Neto de Araújo. A cidade de São Paulo era diferente naquela época e conseguíamos jogar partidas de “queimada” e até arriscar uns toques de vôlei em meio à calçada, com todo o sossego que nos era permitido. Ninguém perdia a oportunidade de ficar ao ar livre, pois a maioria das crianças era moradora dos edifícios que naquele trecho enfileiravam-se. O trânsito de veículos não era intenso e possibilitava que nossos finais de tarde fossem muito agradáveis e preenchidos de forma saudável. O período da manhã era reservado à escola e acordar cedo sempre foi muito natural para mim. Ainda hoje adoro levantar com o canto dos pássaros e acho deslumbrante quando tenho a oportunidade de ver o sol despontar no horizonte. No meu tempo de criança tinha grande atração por tudo que se relacionasse com a natureza: plantas e bichos nunca passaram despercebidos no meu caminho. Talvez fosse hereditário porque meu avô era apaixonado por animais e meus pais sempre tiveram grande afeição por cachorros e gatos. Meus amigos felizmente nunca praticaram qualquer tipo de maus-tratos e muitos deles tinham cães. Era uma turminha que sabia respeitar pessoas e bichos. A educação que se recebe nesse período é fundamental para a formação do caráter, pois é de pequeno que se ensinam bons hábitos e se desenvolvem qualidades e virtudes. Uma criança bem orientada será um expoente de bondade em meio a outros indivíduos não tão bem norteados. Respeitar o amigo, sua professora, o cachorro que passa na rua ou aquela pessoa mais velha é saber viver da forma correta, com consequências positivas para uma convivência em harmonia. Meus pais sempre deram bons exemplos, pois partiam do princípio de que a teoria tem que fazer parte do mundo dos acontecimentos e, portanto sair do mundo das palavras. Há algum tempo tive a oportunidade de encontrar pela internet alguns amigos dessa fase e inclusive dos anos subsequentes. Muito bom e interessante: cada qual com sua atividade e história diferente. Gostoso buscar na memória as tantas cenas dessa época. Melhor ainda não sufocar a criança que mora dentro de cada um de nós. Tornar a vida mais colorida e plena de contentamento deve ser o objetivo dessa eterna infância interior, pois não é porque nos tornamos adultos que precisamos estar taciturnos e sisudos. Podemos dar continuidade a essa pureza de espírito imaginando uma existência espelhada no sol, que apesar de extremamente disciplinado em suas responsabilidades e horários irradia muita vida e alegria por onde quer que chegue.
Nota do Editor: Evely Reyes Prado, reyesevely@yahoo.com.br, paulistana, formada em Direito pela PUC-SP, morou em Ubatuba por vinte anos, onde aposentou-se pelo Tribunal de Justiça - SP e foi integrante da APAUBA - Associação Protetora dos Animais de Ubatuba. É autora de contos em Antologias diversas, e dos livros “Tudo Tem Seu Tempo Certo” e “Do Um ao Treze”, encontrados através do site www.scortecci.com.br.
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