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COLUNISTA
Evely Reyes
04/10/2011 - 07h06
Seu nome é T ai Lu
 
 
 
Evely Reyes 
  T ai Lu Segunda.

O sol estava causticante e ele simplesmente colocou-me dentro daquela caixa imunda, onde todos nós já havíamos vomitado e largou-a na esquina de um posto de gasolina.

Tudo começou muitas horas antes, ao raiar do dia, no momento em que saímos do sítio localizado no município de Aratuba, pertencente ao Maciço de Baturité.

Viemos amontoados e chacoalhando na garupa de uma motocicleta, conduzida por aquele homem grosseiro, em alta velocidade.

Circulamos por algum tempo pelo centro da cidade de Fortaleza, onde meus irmãos foram oferecidos a algumas pessoas, até que três fossem vendidos.

Aborrecido por não conseguir livrar-se de mim, o tal homem fez uma última tentativa num pet shop da av. Washington Soares, mas a proprietária não se interessou, alegando que eu seria uma cachorra de porte grande. Diante disso, ele não pensou duas vezes e largou-me à própria sorte naquele sol do meio-dia.

Sem olhar para trás e contando o dinheiro arrecadado, comentou com o frentista que o observava, que estava muito cansado e precisava voltar, pois ainda tinha uma cachorra labradora com doze filhotes para “ganhar um bom dinheiro” e foi-se embora.

Fiquei ali, toda imunda, cheia de pulgas e carrapatos, sedenta e a ponto de devorar qualquer coisa que me aparecesse à frente, tamanha era minha fome.

Ai, meu Deus do Céu!

Que indivíduo desumano!

Como teve coragem de me largar na rua, desse jeito, com pouco mais de 35 dias?!

O que custava me levar de volta para junto de minha mãe?

Além de sermos explorados e vendidos como objetos, somos jogados fora como lixo, no momento em que não servimos mais!

É triste, mas existem seres humanos que nada têm de humanos.

Óbvio que eu tinha grandes chances de morrer de insolação, porque dificilmente alguém me tiraria daquela situação, mas não perdi a esperança, porque aprendi com minha mãe que nunca devemos desanimar qualquer que seja o obstáculo.

Então, comecei a me sacudir dentro da caixa e a gritar o máximo que eu conseguia. Quem sabe São Francisco de Assis pudesse me ouvir e algum ser humano que por ali passasse tivesse compaixão desta abandonada cachorrinha, que também é uma criatura de Deus.

Maior o esforço e mais tontura eu sentia. Então escutei algumas vozes e no instante em que uma sombra se fez sobre mim, fui recolhida por duas pessoas.

Todo o desgaste e a fraqueza em que me encontrava não permitiram que eu entendesse se aquilo era o Céu ou se na verdade eu havia sido retirada daquele posto de gasolina escaldante!

Percebi que estava numa casa com vários bichos, bem maiores que eu, onde imediatamente fiquei diante de uma vasilha com água fresca e outra com pedaços de carne misturada com ração.

Descansei por horas, depois me deram um belo banho e tiraram todas as pulgas e carrapatos que me acompanhavam.

Descobri que não é o Céu! É apenas uma casa onde moram pessoas que têm consideração pelos bichos e que fazem do respeito a todos os seres vivos sua bandeira de luta! Tive sorte: passei a ser parte desta grande família!

Neste dia 04 de outubro, Dia Mundial dos Animais, quero fazer uma singela homenagem a São Francisco de Assis pela grandeza de suas atitudes e por todo o seu apreço à natureza.

Reconhecido como Patrono dos Animais e do Meio Ambiente será sempre lembrado como exemplo de compaixão, tolerância e amor por todas as formas de vida.

Que os Protetores e Defensores possam formar uma CORRENTE DO BEM em prol de todos os seres vivos do Planeta, através de uma luta pacífica!

Que estejamos unidos contra todos os indivíduos perversos a fim de que prevaleça o altruísmo, a sabedoria e o bom senso para o BEM ESTAR DA HUMANIDADE!

P.S. - A cachorrinha protagonista desta história está morando aqui em casa e devido à semelhança de pelagem e temperamento com outra que tive, passei a chamá-la de T ai Lu! Sua data de nascimento ficou sendo o dia 10 de agosto de 2011. Diferente da maioria dos cães e gatos abandonados pelas ruas encontrou um lar.


Nota do Editor: Evely Reyes Prado, reyesevely@yahoo.com.br, paulistana, formada em Direito pela PUC-SP, morou em Ubatuba por vinte anos, onde aposentou-se pelo Tribunal de Justiça - SP e foi integrante da APAUBA - Associação Protetora dos Animais de Ubatuba. É autora de contos em Antologias diversas, e dos livros “Tudo Tem Seu Tempo Certo” e “Do Um ao Treze”, encontrados através do site www.scortecci.com.br.
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