No momento em que se atirou sobre o bezerro lançado na arena da 56ª Festa do Peão de Barretos e na sequência torceu seu pescoço, o peão Cesar Brosco teve a pretensão de imobilizar o animal da forma mais rápida, para poder vencer a prova conhecida como bulldog. Pelo fato de não ser utilizado nenhum tipo de equipamento, torna-se óbvio que a violência empregada deve ser muito grande, pois somente um impacto brusco e gestos fortes teriam a capacidade de estancar com as mãos um animal de 300 kg, em plena corrida. O bezerro sofreu uma lesão nas vértebras e ficou paralítico, pois teve sua coluna torcida. Não servindo mais às atividades desse espetáculo de horror foi sacrificado, após a constatação de que estava impossibilitado de se locomover! São tragédias anunciadas! Caro leitor, reflita comigo, qual a probabilidade do animal sofrer algum tipo de lesão numa prova dessas? Se tiver a oportunidade de assistir o respectivo vídeo tão veiculado pela internet, constatará o quanto é torcido o pescoço do bezerro e até imaginará que será quebrado de uma vez, porque a brutalidade e o impacto são imensos! Toda essa violência gera muita agonia e dor aos animais que participam desse espetáculo! É um evento que não só faz sofrer como também mata! Os bichos permanecem nos currais para treinamento e mediante o emprego de estímulos dolorosos são condicionados ao comportamento desejado. Antes de serem lançados nas arenas ficam apavorados com os gritos, fogos de artifício, a música ensurdecedora, os chutes, pontapés e os choques a que são submetidos para serem conduzidos à sua fatídica participação. O conhecido utensílio de tortura, denominado sedém, é amarrado sobre os genitais do boi que vai ser montado, com o objetivo de fazê-lo passar por um animal bravo e selvagem. O incômodo e as dores são tantas que o animal salta, pula e corre na tentativa de se desvencilhar desse tormento, mas jamais por ser um bicho bravo ou selvagem. Não, caro leitor, o único selvagem nessa história é quem força este pobre animal a participar disso! Selvagem é quem considera isso um entretenimento, quem participa ou patrocina esse espetáculo de fazer sofrer e morrer! Até pimenta e outras substâncias abrasivas são introduzidas no ânus desses bichos! Nas competições de laço, proibidas no país há quatro anos pelo Forum Nacional de Proteção e Defesa Animal, os indefesos bezerros eram lançados na arena, completamente apavorados, em fuga dos sofrimentos ocorridos nos bastidores dos rodeios, até o momento em que seus pescoços eram tracionados por uma corda, para que subitamente estancassem no chão. Qualquer pessoa pode imaginar a dor na coluna do infeliz bezerro. Parece que os simpatizantes deste tipo de entretenimento desconhecem que os animais tem um sistema nervoso central, assim como os seres humanos. Ocorrências consideradas anormais para o animal causam lesões, estresse, dor e podem até levar à morte, de acordo com laudos do IBAMA, Instituto de Criminalística do Rio de Janeiro e da Diretoria e Comissão de Ética da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo, dentre outros. Na verdade, onde existir um rodeio, haverá crueldade! Praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar, golpear qualquer órgão ou tecido animal, ou utilizar o animal para divertimento, exibindo-os ou utilizando-os em espetáculos incompatíveis com sua dignidade ferem respectivamente a Lei 9605/98 em seu artigo 32, bem como o Decreto 24645, a Constituição Federal Brasileira, no artigo 225, parágrafo primeiro, inciso VII, e também a Declaração Universal dos Direitos dos Animais, publicada em assembleia da UNESCO, na cidade de Bruxelas, no ano de 1978. É importante entender que os seres não humanos são sencientes, ou seja, sentem medo, raiva, dor, felicidade e tantos outros sentimentos, porque assim como nós, possuem um sistema nervoso central. O cérebro recebe informações que imediatamente são entendidas através das respectivas reações sensoriais, portanto o infeliz bezerro que ficou imóvel na arena da Festa de Barretos deve ter sentido muito pavor e uma dor incomensurável com seu pescoço torcido e sua coluna destruída. Diante do ocorrido, o Forum Nacional de Proteção e Defesa Animal entendeu por bem acionar a Justiça com o objetivo de proibir a modalidade bulldog e a WSPA (Sociedade Mundial de Proteção Animal) comprometeu-se a encaminhar o caso ao Grupo de Atuação Especial de Defesa Animal, do Ministério Público. A indignação da população que tomou conhecimento foi intensa e na noite desta última terça-feira, dia 23 de agosto houve na internet uma ampla manifestação contra a existência de rodeios no país e no Twitter foi dominante a contrariedade e repulsa ao evento (mais de 50 mil tweets, por volta das 23 horas do dia 23 de agosto). Em contrapartida, os simpatizantes justificaram seu amor a esse espetáculo de fazer sofrer e morrer, conhecido como rodeio (em torno de nove mil tweets). O site R7 promoveu uma pesquisa a respeito e a aversão dos internautas contra o espetáculo de fazer sofrer e morrer predominou pelo entendimento de que ocasiona muita dor aos animais (97,22%). O loboreporter.blogspot.com divulgou na data de 25 de agosto o painel que Eduardo Kobra está pintando sobre a imagem do peão Cesar Brosco, no instante fatal em que tentou imobilizar o bezerro, sacrificado algumas horas depois pela imensa crueldade sofrida. Esclareceu ainda o Lobo Repórter que estará terminado na data de 26 de agosto, num tamanho de 4.5m por 12m, e será exposto pelo artista plástico à Av. Faria Lima, 324 - Pinheiros. No www.petitiononline.com há uma petição contra a realização de rodeios no Brasil e o ONG “cadeia para quem maltrata os animais” veiculou há muitos meses atrás o abaixo assinado contra a realização da Festa do Peão de Barretos em SP, disponibilizado no site www.abaixoassinado.org. É importante a manifestação de todos para que definitivamente não mais exista no país esse espetáculo de fazer sofrer e morrer! Constatar que os seres vivos são sencientes e que por isso merecem proteção deveria fazer parte do currículo educacional nas escolas, pois é desde criança que o caráter do adulto deve ser moldado! A fim de que possamos vivenciar um mundo com dias melhores é fundamental que as cenas de crueldade não sirvam de exemplo e a violência não seja banalizada e que esse entendimento seja dirigido a qualquer ser vivo deste Planeta!
Nota do Editor: Evely Reyes Prado, reyesevely@yahoo.com.br, paulistana, formada em Direito pela PUC-SP, morou em Ubatuba por vinte anos, onde aposentou-se pelo Tribunal de Justiça - SP e foi integrante da APAUBA - Associação Protetora dos Animais de Ubatuba. É autora de contos em Antologias diversas, e dos livros “Tudo Tem Seu Tempo Certo” e “Do Um ao Treze”, encontrados através do site www.scortecci.com.br.
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