Dois taxistas conversam sobre uma lojinha que vendia de tudo, de bijuterias a artigos místicos, e que abriu há pouco tempo bem próxima do ponto de táxi deles, no outro lado da rua. - Tu viste que abriu uma lojinha ali? - Onde? - Ali onde o Zé tinha a barbearia... - Vi sim! - Quando abriu? - Que dia é hoje? - Segunda-feira... - Se hoje é segunda... Então... Acho que foi no sábado à tarde... - Ah bom! Sábado eu estava de folga, por isso não tinha visto ainda... - Pois é... - Vende tudo que é miudeza, né? - Parece que sim! - Só fiquei encasquetado com uma coisa... - O quê? - O nome da loja... - O que tem? - Estranho, né? - Por que estranho? - Pô! O nome do troço é “Seirá me los” e tu não achas estranho? - Tu querias um nome “normal” para uma loja que vende de brinco até incenso? - É... Tens razão... - O pessoal que mexe com esse tipo de coisa, geralmente, não é muito normal... - Pois é... De perto, ninguém é normal, como diria Caetano... Há! Há! Há! - Há! Há! Há! Pois é... - Mas o que será que significa o tal nome da loja... - Não sei! - Se tu ler rápido dá para interpretar como “será melhor”! - Não! Não! Não deve ser isso... - Pois é... Pode ser algo em outro idioma, né? - Pode! Claro que pode... Mas qual? - Não sei! Espanhol? - É... Lembra! Pode ser mesmo... - De repente, ele só quis ser diferente... - Também! - Pois é... - Mas, estou com um palpite que o dono quer passar uma mensagem... - Como assim? - Sei lá! Uma mensagem de reflexão para a vida ou algo do tipo... - Será? - Eu acho... Ele não vende coisas místicas lá? - Vende! - Então... - É... Mas será que só tem um dono? - Não sei! - Me veio à idéia aqui agora que pode ser a junção de vários nomes? - Também! - A junção do nome dos donos, né? - É... - Ou... Ou... Tá aí! É a junção do nome dos filhos do dono ou dos donos! - Pode ser... - É sim! Pode escrever aí... - É... Mas, não sei... Eu continuo com aquela minha idéia da mensagem! - Acho que não! - Quer apostar? - Claro! - Meia-dúzia de cerveja em lata. Pode ser? - Claro! Fechado... - Fechado! Junção de nomes ou mensagem? - Isso! Fechado! - Entregue gelada? - Pode ser! - Beleza! Então, vamos ali perguntar... Os dois taxistas atravessam a rua na direção da lojinha e chamam o dono... - Boa tarde! - Boa tarde! - Nós somos taxistas aqui da área, tudo bem? - Tudo bem sim! Prazer! - Prazer! - Prazer! Seja bem-vindo... - Obrigado! - Nós estávamos ali olhando a sua loja e nos surgiu a dúvida sobre o nome dela... O senhor pode nos explicar? - Ah sim, claro! Então, o dono aponta para os escritos e símbolos na fachada da loja e começa a explicá-los... - Estão vendo que essa flecha, embaixo das letras, vai da direita para a esquerda, certo? - Certo! - Certo! - Ela indica o sentido da leitura... - Arãn! - Certo! E com um sorriso no rosto, cheio de orgulho, como se a idéia para o nome da loja fosse algo extraordinário, ele profere a explicação final: - Ou seja, da direita para a esquerda... O que se lê? Sol em Áries! Que é o meu signo! Não é genial? Um dos taxistas, sem qualquer tipo de cerimônia, balança a cabeça e conclui: - Que palhaçada! E sai caminhando. O outro, um pouco mais educado, ainda, diz ao dono da loja: - É sim... Obrigado! E, também, deixa o local. Ao se reencontraram, um dos taxistas comenta ao outro: - Viu? Eu disse que não era coisa de gente normal!
Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
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