Em uma carrocinha de cachorro-quente. - Boa noite! - Boa noite! - Me vê um cachorro sem alface, por favor! - É pra já! Hoje, está em promoção o lanche... - Que bom! - Noite fria, né? - Pois é! Esfriou mesmo... - Eu dei um jeito de me agasalhar bem, meu filho! Estou com um resfriado... - Tem que se cuidar mesmo! - Pois é! Se não passo dessa para uma melhor... Ou pior, né? Vai saber... Há! Há! Há! - É... - Ainda bem que tu não queres alface. Tive que colocar a que trouxe de casa toda fora. Estava com uns bichinhos... Sabe esses que criam em alface? - Sei... - Pois é, estava cheio deles e eu não havia visto. Eu que planto as alfaces em casa. Tudo sem agrotóxico... - É bom... - Faz bem para a saúde da gente. Mas, o problema é que não dura muito... Planto milho, também! - Legal... - Mas esse ano não deu muito... Deu uns milhos feios... Com um amarelo gozado... Esse aqui, ó... É o restinho da plantação... Mas, o senhor pode ficar tranqüilo que é tudo de qualidade, viu? - Sei... - Eu sempre digo que o meu cachorro-quente é o mais natural da cidade. Planto ou faço quase tudo que vai nele... Só o pão que não! - Bom! - Tenho horta nos fundos do pátio de casa... - Ah! - Planto cebola, tomate, milho, alface... De tudo um pouco! - Sei... - A maionese é a patroa quem faz! Fica mais gostosa feita em casa, né? - Com certeza... - O molho é ela quem faz, também! Daí, não se tem desperdício... Aproveita, né? De um dia para outro... - Sei... - Esse aqui é bem novinho. Ela fez hoje... - Acredito... - Atchim! Atchim! Atchim! - Saúde! - Obrigado! É o resfriado que me pegou... - Desculpa, mas... O senhor assuou o nariz no pano de prato... Isso? - Não tive escolha, meu filho! Mas já vou trocar... - Ah, tá! - Esse já estava encharcado mesmo de tanto que eu já espirrei, hoje! - Hã... - Mas voltando ao meu cachorro-quente. Dizem que é o melhor da cidade! Eu sou suspeito de falar... - Acredito... - O senhor deve estar se perguntando: e a salsicha, né? De onde ele tira... - Nem tinha pensado nisso... Mas, conta... - Meu cunhado quem faz! Tem um pequeno negócio nos fundos de casa... A firma não está registrada, ainda... Mas a gente tem que incentivar, né? Ele está caprichando. O senhor come e depois me diz se não é a salsicha mais gostosa que já comeste... - Imagino! - Mas para efeito de driblar a fiscalização da vigilância sanitária, tenho um pacote aqui guardado de salsicha comprada no supermercado... - Ah! - A gente tem que dar um jeitinho, né? - Pois é... - Está quase pronto... - Vou fazer uma ligação e já retorno, ok? - Claro... Três minutos depois... - Prontinho! - O senhor pode fazer mais dois... - Opa! Só falei como preparo o meu cachorro-quente e já deu água na boca, é? - É... Dois amigos virão pra cá, também! - Isso aí, meu filho! Ajuda a trazer mais gente para o negócio do “véio” aqui! Dez minutos depois, os dois amigos chegam... - Grande, Ferreira! - E aí, Mário! Tranqüilo? - Tranqüilo! - E aí, Bittencourt! Tudo bem? - Tudo! - Eis o cachorro-quente que lhes falei por telefone... - Esse Ferreira, não descansa nem na folga... Isso que é exemplo de colega profissional! - Pois é... - Vamos trabalhar! Então, os dois homens abordam o falante vendedor de cachorro-quente... - Boa noite, senhor! Somos da vigilância sanitária...
Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
|