Domingo. O relógio marcava 15 horas e 58 minutos. Na sala de estar de casa, Paulão estava com o “circo” montado para assistir seu time do coração jogar a primeira partida válida pela etapa semifinal do campeonato estadual de futebol contra o principal rival. Sentado confortavelmente no sofá vestindo a camisa do clube, ele já havia sintonizada a televisão no canal correto, feito um estoque de cerveja ao lado com projeção de duração para todo o primeiro tempo de jogo, ligado o velho radinho da sorte na rádio preferida. Tudo pronto para mais uma “jornada esportiva”. Foi quando... - Amor! - Hã? - Olha pra mim, por favor? - Fala que estou escutando... - Tira os olhos da televisão um minuto e me olha... - Hã? - Estou precisando de carinho... - Depois... Agora vou olhar o jogo... - De atenção... - Depois... - De uns beijinhos... - Depois... Oh! Começou o jogo... Posso assistir? - Eu quero agora! - Depois da partida eu te dou toda a atenção do mundo. Só me deixa assistir o jogo... São duas horinhas... É importante... Depois, tá? - Não! Que quero agora! - Justo na hora do jogo? - Sim! - Não complica, Jaqueline! Jogo semifinal... Valendo vaga para a final... - Tu estás me trocando por um jogo de futebol. É isso? Entendi bem, Paulo Rogério? - Não é isso, meu amor! Não te troco por nada desse mundo. Eu só quero assistir o jogo do meu time em paz... É difícil de entender? - Muito! Como tu podes me trocar por vinte e tanto homens... Sei lá quantos são... - Aí meu Deus! - Na nossa relação, sempre foi assim... Eu sempre no segundo plano... Quinze minutos depois, a discussão continua... - Por que tem que ser na hora do jogo, Jaqueline? - Estou carente agora... - Tem o restante do dia para eu te dar atenção... - Sempre tem que ser na hora que tu queres as coisas... Não na hora que eu quero... Termina o primeiro tempo do jogo... - Que moral tu tens de cobrar sobre o meu passado, Paulo Rogério? Me diz? Me diz? - Não estou falando do teu passado, Jaqueline! Estou falando do nosso passado. Que tu não respeitas... - Eu não respeito? - Não! Toda a vez eu tenho que evocar que antes de te conhecer eu era até de torcida organizada e não perdia uma partida no estádio... - Viu como eu te fiz virar gente, Paulo Rogério? - Não me provoca! Vinte e dois minutos do segundo tempo de partida... - Não coloca a minha mãe no meio, Paulo Rogério! - Ela fica colocando coisa na tua cabeça, Jaqueline! É isso... - As opções são tuas, não dela... Trinta e cinco minutos da segunda etapa... - Eu não agüento mais tu olhando jogo toda a quarta e todo o domingo... - Mas, Jaqueline! O resto do tempo eu fico contigo... São duas horinhas e nada mais... O pior se eu estivesse na rua correndo atrás de mulher... - Aí tu não estavas aqui para contar a história... - Então! Estou aqui, sentadinho no sofá de casa, olhando o jogo sob tua vigilância... - Não tem desculpa, Paulo Rogério. Escolhe: eu ou teu time? Final de partida. O placar do jogo foi zero a zero... - Olha aí, ó! Terminou o jogo e eu nem consegui assistir um lance direito... - Não perdeu nada! Foi zero a zero... Por isso que digo que é perda de tempo olhar futebol... - Que droga! Bom se já perdi o jogo não vou perder a mulher... Eu aceno com a bandeira branca... Vem aqui vem... Vou te dar atenção... Carinho... Beijinhos... Como tu querias... Jaqueline respirou e respondeu: - Agora não quero mais! E deixou a sala de estar...
Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
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