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COLUNISTA
Rodrigo Ramazzini
08/04/2011 - 09h02
Boca fechada
 
 

Duas “conhecidas” caminham em sentido contrário em frente a uma estação rodoviária, quando se cruzam, elas se olham e param de caminhar, iniciando uma conversa.

- Oi Tânia, tudo bem?
- Tudo bem! Mas tu confundiste porque eu sou a Val. Tânia é a minha irmã.
- É que vocês são muito parecidas e eu para guardar a fisionomia das pessoas sou uma tristeza. Desculpa! Tudo tranqüilo, então?
- Tudo sim!
- E a Tânia vai bem, né? Aquela louca! Há! Há! Há! Faz tempo que não a vejo...
- É... É... Agora pode se afirmar que sim! O pior já passou...
- Ué! O que houve?
- Ela está hospitalizada na capital. Pegou uma pneumonia e quase partiu dessa para uma melhor...
- Que coisa, guria! Nem sabia... Também, a gente vive nessa correria. Não tem tempo para mais nada...
- Pois é... Mas, agora, ela está bem. Deve receber a alta médica na próxima semana...
- Que bom! Vou ver se consigo ir visitá-la...
- Vê se vai sim! Ela vai gostar...
- Ela continua morando na casa ao lado da mãe de vocês?
- Arãn!
- Vou ver se vou mesmo! E a mãe? Vai bem a “Véia”, né? Nunca mais a vi, também!
- E nem vai ver mais...
- Ué! O que aconteceu?
- A mãe... A mãe... Não soube?
- Não!
- A mãe faleceu há uns cinco meses...
- Não brinca, guria! Capaz?
- Arãn. Estava com câncer no intestino e não resistiu. Corremos para tudo que é lado com ela, levando em médico, trocando de hospital, mas, enfim, Deus quis assim... Fazer o quê...
- Meu Deus! Nem fiquei sabendo... Meus pêsames, querida! Desculpa por não ter podido ir lá abraçar vocês...
- Tudo bem! Não tem problema...
- Fiquei até vermelha agora. Que vergonha!
- Não te preocupa com isso...
- Ai guria! Como são as coisas...
- Pois é! Fazer o que...
- Bom! Pelo menos está esperando algo para animar a família aí, hein? Já sabes se é menino ou menina?
- Como assim?
- Está de quantos meses?
- Ah, tá! Agora entendi. Não estou grávida, não! Estou gorda mesmo, mulher!
- Ah, bom! Achei...
- Preciso ir porque está na hora do meu ônibus! Bom te ver, Lúcia!
- Também!
- Aparece!
- Tá...
- Tchau!
- Tchau!

Lúcia se despede e sai se perguntando:

- Por que eu não deixo a minha boca fechada, meu Deus? Assim não precisava passar por cada situação, cada constrangimento... Que vergonha!


Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
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