- Precisamos conversar sério, Édson... - Quando me chama pelo nome... É que vem bomba! - Deixa de ser abobado... - Fala, Elisa! - Senta aí... - O que foi? - É que... - Por que essa cara? É coisa ruim? - É porque eu... - Está doente? É grave? A gente enfrenta junto... Estou contigo nessa! - Não! - Então, foi despedida? A gente dá um jeito... A gente se vira! Grana se arruma... - Não! - Quem morreu? Aí, meu Deus! Fala... Estou preparado! Minha mãe? Meu pai? Meu irmão? - Não! - O vô? Foi o vô, então? - Não! Já disse... Ninguém morreu! - Ufa! Que alívio... - Posso falar? Me deixa falar, Édson... - Pode... - Que mania chata essa tua de tentar adivinhar tudo... Irrita! - Não é isso... - É isso, sim! Tu precisas te tratar disso... Sofrer por antecedência faz mal para a saúde e para o espírito... - Eu não sofro. - Sou eu quem sofre... Sei... Sei... - Fala... - É o seguinte... - Hã... - É que eu... - Tu tens outro? É isso? Não gagueja... Conta... - É o que eu estou tentando fazer: contar! Mas, tu não deixas, criatura! - Me diz: por que, Elisa? - Por que o quê? - Por que me traiu? O que está faltando no nosso relacionamento? A gente podia ter conversado... - Não é isso, Édson! - Como não? Tu acabaste de dizer! - Disse que estava tentando contar algo. Ponto. Mas em nenhum momento eu disse que era traição... - Eu não sou bobo, Elisa! Toda enrolada para falar... Só pode ser isso... Bateu o arrependimento, é? - É sim, um bobão! Há! Há! Há! - Tu me traíste e ainda ri na minha cara? Sua vagab... - Segura a palavra, papai! - Papai? Por que papai? - Está lenta a coisa hoje... - Eu vou ser pai? É isso? - É isso sim, seu bobo! Fui ao médico hoje e ele confirmou a gravidez. - Uhhúuuuu! Eu vou ser pai! Há! Há! Há! - Seu bobão! Pensando besteira de mim... - Me dá um abraço, meu amor! Silêncio. - O que foi, Édson? - Será que vai ser menino? Eu acho que vai ser menino. Tem que ser menino, né? - Aí meu Deus! Vai recomeçar...
Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
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