Era uma quinta-feira. Como sempre acontecia quando o calendário marcava nesse dia da semana, depois do expediente, a turma do escritório saía para tomar uma cerveja. Eram quatro: o Tomás, o Maciel, o Felipinho e o Nogueira, o único casado da tropa. Foram ao bar do Seu Calixto, famoso pelos petiscos e, principalmente, pelas belas mulheres que freqüentavam o lugar. Sentaram-se e logo mandaram o garçom trazer a primeira gelada para abrirem os trabalhos. Copos abastecidos, o bate-papo iniciou com um dos três assuntos que geralmente fazem parte das conversas de bar entre os homens: trabalho. - Que dia hoje, hein pessoal! -, exclamou Nogueira. - Pois é... foi feia a coisa! A Luciana está de TPM, eu acho. Só me encheu o saco hoje -, acrescentou Maciel. - Pior! - Concordou Tomás. E o Felipinho encerrou essa etapa da conversa, quando perguntou, em tom irônico: - Vieram para o bar fazer hora-extra? Breve silêncio. Então, depois de uns goles, Maciel puxou o segundo assunto predileto entre o sexo masculino: futebol. - E o teu time, hein Tomás? Que fiasco! Perdeu de novo e de goleada... E Tomás, um torcedor fanático, que assistira a derrota do seu time para o arqui-rival pelo placar de cinco a zero no dia anterior, e estava desde a hora que acordara recebendo flauta dos amigos, respondeu irritado: - Cara... Não quero brigar contigo! Por favor, não vamos falar de futebol nessa mesa... Novo silêncio. Clima pesado por alguns segundos, que durou apenas até Felipinho soltar a exclamação, que daria início ao terceiro assunto predileto dos homens nos bate-papos de bar (não necessariamente nessa ordem): mulher. - Meu Deus do céu! Vem a Rapha! A turma se virou e avistou vindo na direção deles a Raphaela, escrito com “ph” mesmo. Não que isso fizesse alguma diferença. Afinal, nenhum homem dava bola para isso. Até achavam charmoso. O que importava mesmo era o famoso caminhar da Raphaela. Ou a “Rapha” para os íntimos ou que queriam alguma intimidade. O gingado ao cruzar as grossas coxas no caminhar causava um balancear sincronizado do firme e arredondado par de glúteos, provocando uma espécie de paralisia no olhar dos homens que assistiam a cena. Embebido com tamanho espetáculo, Tomás deixou escapar quando ela passava, em volume bastante audível: - Ô lá em casa! Ao escutar tal insinuação, Raphaela parou, virou-se e quando iria falar algo, Nogueira fez uma afirmação surpreendente para o restante da turma e escutada por ela. - Eu não trocava a minha esposa por uma dessas aí! Silêncio na mesa. Raphaela vai embora ao ouvir o Nogueira. Todos tomaram um gole de cerveja, ainda, atônitos com a revelação. Como poderia um homem desprezar Raphaela? Seria Nogueira tão fiel? Tão apaixonado pela esposa? Um exemplo de homem? Perguntavam-se inquietos. Tomás teve coragem de questionar: - Por que, Nogueira? Silêncio. Todos esperavam pela resposta. Nogueira olhou para os lados e fez um sinal para a turma se “juntar” no meio da mesa, e então, cochichando, revelou: - Estão vendo essa mulher de laranja na mesa ao lado? É minha vizinha! Maior fofoqueira. Vi ela me olhando quando a gostosa passava. Não podia deixar furo né, pessoal? - Há! Há! Há! - Há! Há! Há! - Há! Há! Há! A turma caiu em gargalhada. Estava desvendado o mistério. Maciel, ainda, completou: - Temos muito que aprender com o Véio Nogueira! Vamos brindar! E todos ergueram e bateram os copos...
Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
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