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COLUNISTA
Evely Reyes
05/02/2011 - 10h04
Um certo Senhor Reyes
 
 

Em uma de nossas incontáveis conversas, um dia eu estava desabafando com minha amiga Lia, inconformada com um comentário que meu pai havia feito, diante de uma atitude que eu resolvera tomar.

Disse-me ela que se eu parasse para observar melhor conseguiria enxergar que tudo não era tão absurdo assim, porque no fundo eu era extremamente parecida com ele e que se estivesse em seu lugar provavelmente teria a mesma reação.

Pensei ser natural que haja alguma discórdia entre pais e filhos, pois as gerações tiveram criações provenientes de épocas diversas, com hábitos diferentes. Somado a isso existe a personalidade de cada um, que pode atenuar ou agravar uma situação gerada pelo impasse.

No nosso caso em especial, percebo que minha amiga fez uma análise acertada, pois a forma severa com que fui educada tornou-me um ser radical.

Nas discussões que alimentávamos havia a minha verdade e a dele, mas em momento algum éramos capazes de ceder, pois a razão absoluta tinha duas faces e era possuída por cada um de nós. Ele, em meio à sua formação rígida e eu, aprendiz de suas teorias no ímpeto da minha juventude.

Diante de sua total autoridade desenvolvi a arte da ironia nas argumentações apresentadas, pois eram proibidas manifestações mais exaltadas de minha parte, entendidas como desrespeito. Foram tempos de alguns embates e do burilar de minhas convicções.

Houve uma época muito boa em que vivíamos na completa harmonia e nada parecia abalar a felicidade que de nós transbordava, a ponto disso ser estendido a todos os amigos que participavam e frequentavam nosso apartamento.

Com a chegada da sexta-feira e durante todo o final de semana, alguns de nossos vizinhos, amigos da família e do colégio em que eu estudava reuniam-se ali para conversar, escutar música e jogar baralho.

Eram encontros muito saudáveis que uniam crianças, adolescentes e adultos num contínuo laço de amizade, carinho e alegria. Fazíamos torneios de “buraco” e adotamos um caderno destinado exclusivamente às anotações dos jogos, com observações, datas e a contagem dos pontos.

Como amantes da boa música e diante da grande quantidade de discos de vinil de vários gêneros, todos ouviam de tudo, com o predomínio, porém da música popular brasileira.

Em noites muito animadas alguns dançavam e cantavam, embalando os campeonatos de baralho que simultaneamente aconteciam no outro lado da sala. O apartamento era antigo e suas dependências tinham grandes áreas internas, permitindo a reunião de muitas pessoas.

Meu pai era extremamente simpático e agradável com os presentes e não perdia o bom humor nem nas ocasiões esporádicas em que era derrotado com seu parceiro ou parceira nas incontáveis “partidas de buraco”. Todos ficavam encantados com sua disposição e disponibilidade de participar de noites tão intensas e agitadas, que na maioria das vezes terminavam com o raiar do dia.

Ao longo dos anos essas atividades passaram a rarear e a dinâmica da vida foi delineando outros caminhos, modificando os quereres e os hábitos dos tantos amigos de todas as idades que naquele lugar reuniam-se.

Como qualquer ser humano meu pai não é perfeito, embora minha avó tenha idealizado isso, dando-lhe o nome de Jesus. É homem sério, com princípios firmes, norteados pela ética e uma vontade imensa de viver e tem como característica ser perseverante, sabendo dosar sua ousadia com pitadas de cautela nos momentos necessários. Como eterno buscador da felicidade sempre amou a natureza e os animais, mostrando-me desde pequena o quanto de fascinante e maravilhoso é o mar e quão delicioso é permanecer imerso em suas águas.

Sob o signo de Aquário, nasceu dia 05 de fevereiro e não aparenta a idade que tem com sua pele bronzeada e todo o charme sul americano que a terra das lhamas lhe presentou.

Se eu tivesse oportunidade de voltar no tempo e renascer, escolheria a mesma família e o mesmo pai, a quem tanto eu me assemelho, sou grata e amo.

Que o universo conspire a favor e que o Criador lhe permita um dia-a-dia repleto de alegrias, bastante saúde e muitos anos de vida, dos quais faço questão de participar o maior número de vezes.


Nota do Editor: Evely Reyes Prado, reyesevely@yahoo.com.br, paulistana, formada em Direito pela PUC-SP, morou em Ubatuba por vinte anos, onde aposentou-se pelo Tribunal de Justiça - SP e foi integrante da APAUBA - Associação Protetora dos Animais de Ubatuba. É autora de contos em Antologias diversas, e dos livros “Tudo Tem Seu Tempo Certo” e “Do Um ao Treze”, encontrados através do site www.scortecci.com.br.
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