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COLUNISTA
Evely Reyes
26/01/2011 - 15h01
Um espetáculo triste
 
 

Recordo aquela manhã do mês de março de 2005, em que desci a estrada interna do Sítio Arca de Noé em direção à clinica do Dr. Rodrigo. Estava com uma cachorra de rua no bagageiro do carro que dentro de algumas horas seria submetida a uma esterilização.

Ao abrir o portão não me apercebi de nada diferente pela grande quantidade de plantas ali existentes, mas tão logo saí da propriedade fiquei estarrecida com o que observava alguns metros à frente: o rio havia subido além da normalidade e derrubado um trecho de aproximadamente cento e cinquenta metros da estrada principal do bairro do Taquaral.

Percebi que estava impossibilitada de passar para qualquer outro lugar que fosse, pois aquela era a única via que ligava a zona rural à urbana. Meu carro, a cachorra a ser castrada, eu e tantas outras pessoas, crianças, adultos e idosos, todos isolados!

Nos muitos dias que se seguiram, tive que fazer uso de um atalho improvisado pelos moradores até que fossem tomadas as providências necessárias pelos órgãos competentes.

Foram desagradáveis, enlameados, temerários e longos dias.

Aberta à foice, a “picada” dava a nítida sensação de querer desbarrancar a qualquer instante com as contínuas chuvas, mas era literalmente a única saída.

A cidade de Ubatuba havia sofrido pontos de alagamento e desmoronamento em várias localidades e nada mais restava a não ser esperar a boa vontade de quem poderia resolver a questão.

No caso da estrada do Taquaral, era preciso que uma máquina adentrasse no rio e trouxesse de volta as pedras levadas pela enchente para que servissem de sustentáculo à nova passagem que seria aberta onde havia sido feito o atalho.

Lembro que os órgãos incompetentes, digo, competentes justificaram a demora alegando que poderiam ser atacados pela oposição no momento em que refizessem a passagem que havia sido destruída. Tinham receio de que a reconstrução da estrada poderia ser considerada um atentado contra o meio ambiente.

Entre outros disparates, havia um determinado setor que alegava ser fundamental que eu provasse que a estrada atingida havia sido uma estrada. Aquilo parecia um verdadeiro complô contra mim e como se diz: seria até cômico, se não fosse trágico.

Diante da minha persistência, argumentações óbvias e manifestações de indignação em meio aos diversos setores públicos a estrada teve seu trecho restituído e depois de algum tempo tudo simplesmente voltou ao normal.

Ao pensar nesse período, lembro de todo o desgaste e dissabores vividos, mas penso o quanto sou uma pessoa privilegiada, por não ter sofrido nada em comparação a tudo que tenho lido e visto nestes últimos tempos.

O ano de 2011 mal começou, e começou mal!

Pessoas de diferentes classes sociais e diversos níveis culturais tiveram danos financeiros, outros perderam parentes, amigos, muitos ficaram órfãos e ocorreram casos de famílias inteiras soterradas ou ainda não encontradas. Não há mais o que dizer diante de tamanha tragédia!

O desequilíbrio ecológico fez desabar uma avalanche de consequências em todas as partes do mundo e com muita intensidade sobre nossas cabeças, nesse país verde-amarelo tão mal administrado, onde a urbanização caótica, as grandes concentrações demográficas e a inércia do poder público agravam os acontecimentos.

Os resultados negativos são sempre previsíveis, mas uma força maior faz com que algumas das causas continuem existindo e que nada de efetivo aconteça para evitar tanta calamidade ou para minimizar os estragos.

As pessoas constroem em áreas de risco e o governo municipal, estadual ou federal não toma providência alguma a respeito. São inúmeros atos praticados pela população que acarretam consequências catastróficas pela inexistência de responsabilidade tanto dos autores como dos órgãos competentes que foram criados com a função de fiscalizar.

O ser humano é responsável por essa infinidade de acontecimentos trágicos que estampam as manchetes dos jornais e ao longo dos anos vivencia os efeitos de sua própria negligência e insensatez.

Os animais, que por sua vez já são desrespeitados no cotidiano ficam aqui no Brasil totalmente abandonados pelo poder público em acontecimentos dessa magnitude, pois sempre há muitas prioridades. No caso da região serrana do Rio de Janeiro só mesmo a persistência dos voluntários protetores e das inúmeras organizações não governamentais torna possível o resgate dos bichos envolvidos no desastre, pois as autoridades ficam omissas.

Mas, este é o país da solidariedade, do futebol, do carnaval e da memória curta, o que nos leva a crer que muito caos ainda está por vir!

Continuaremos passando por situações semelhantes e cada vez mais graves enquanto os políticos forem profissionais e não verdadeiros representantes do povo. Providências são tomadas para minimizar as graves consequências, mas os problemas não são resolvidos em sua estrutura e portanto tendem a acontecer novamente, porque nossa cultura é imediatista. Elaborar projetos mais sérios e a longo prazo não gera dividendos políticos: este é o “x” da questão!

Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina, Pará... são os palcos desse imenso drama.

Então, como é de se esperar, surgem os secretários, prefeitos, governadores, ministros e demais autoridades com seus pomposos discursos.

As palavras têm poder, mas são incapazes de restituir os danos sofridos, as perdas havidas, e o emocional devastado de cada personagem que sobreviveu a esse triste espetáculo.


Nota do Editor: Evely Reyes Prado, reyesevely@yahoo.com.br, paulistana, formada em Direito pela PUC-SP, morou em Ubatuba por vinte anos, onde aposentou-se pelo Tribunal de Justiça - SP e foi integrante da APAUBA - Associação Protetora dos Animais de Ubatuba. É autora de contos em Antologias diversas, e dos livros “Tudo Tem Seu Tempo Certo” e “Do Um ao Treze”, encontrados através do site www.scortecci.com.br.
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