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Num belo e ensolarado final de tarde tive a oportunidade de ver anunciado o curso de Tai Chi Chuan que teria início ao dia seguinte, à praça dos Bem te vis, na cidade de Fortaleza, onde tenho o hábito de fazer minha caminhada diária. Fiquei entusiasmada porque há muito tempo que estava interessada em aprender essa arte marcial, não só em razão da filosofia que a embasa, como pelos benefícios oriundos de sua prática, e por toda leveza e graça de seus movimentos. Fiz uma rápida pesquisa a respeito e tomei conhecimento de que a teoria mais interessante sobre seu surgimento é a de que um monge por vários dias teria observado uma garça lutando com uma cobra e constatado que apesar de a ave ser maior, mais forte e ter mais recursos não conseguiu sair vitoriosa sobre sua oponente, que teve um desempenho surpreendente ao se defender com suavidade e diversos movimentos circulares. Encantado com o episódio, a partir daí o monge teria criado e desenvolvido os primeiros movimentos que basicamente são relacionados com a natureza e com os animais. Esta arte, datada aproximadamente de 1200 DC teria sido disseminada por um guerreiro, que aprendendo sua técnica, conseguiu vencer batalhas, derrotar exércitos e com isso difundi-la além da aldeia de que era integrante. Existem vários estilos para sua aplicação, inclusive com gestos e pulos bruscos e rápidos, porém o mais popular e conhecido no mundo todo é o estilo Yang, que difere pelos gestos mais longos e abertos e seu resultado terapêutico. Para uma definição sucinta diria que o significado de Chuan é arte marcial e de que Tai Chi é equilíbrio universal. Considerando a existência do vazio, parte-se do princípio de que dele nascem duas energias, denominadas Yin e Yang e que estas, em equilíbrio e movimento, com a semente de seu oposto em seu interior, formam o símbolo conhecido por Tai Chi. O ser humano personifica a síntese e o equilíbrio dessas duas energias e representa o próprio Tai Chi, sendo o céu o Yang e a terra o Yin. Portanto o Tai Chi demonstra a superioridade do suave sobre o rígido, onde o que é flexível consegue se adaptar e o que é duro, simplesmente se quebra, tornando-se também uma metáfora da própria vida. Da última vez em que estive na cidade de São Paulo, tive a oportunidade de assistir a uma exibição de Tai Chi em meio ao Parque da Independência, feita por um rapaz desconhecido, no exato instante em que me dirigia à lateral esquerda do jardim do Museu do Ipiranga. Estava acompanhada de meu pai, e havíamos saído num final de tarde para dar uma caminhada quando nos deparamos com aquele belo espetáculo. Com o corpo totalmente alinhado, como que a um eixo vertical imaginário, o praticante manifestava toda sua habilidade em movimentos plenos de harmonia, executados de modo contínuo, mas em velocidade muito lenta e de forma circular. Muito concentrado, ele parecia nem se aperceber se estava sendo observado ou não, tão envolto com as formas e gestos realizados. Ficamos ali nos deliciando com aquela apresentação e de certo modo um tanto quanto afetados por tamanha sensibilidade e perícia. Era admirável como ele conseguia alongar seus músculos e flexionar suas articulações sem diminuir em nada seu equilíbrio. Considerando os pés como a raiz, a teoria do Tai Chi diz que sua força é impulsionada através das pernas, administrada pela cintura e evidenciada pelos dedos, num todo harmonioso, onde os olhos seguem o movimento, em total coordenação entre a parte inferior e superior. Alguns dias atrás fiquei sabendo pela internet que a Aída, minha amiga de Ubatuba, estava toda contente porque seu filho Chico havia sido contemplado com o título de Campeão Brasileiro de Tai Chi Chuan. Fiquei emocionada e feliz pelo talento dele, pois obviamente foi fruto de um aprendizado longo e ininterrupto. Dominar o movimento utilizando-se da quietude, vencer a dureza fazendo uso da suavidade bem como subjugar o rápido através do lento mediante o desenvolvimento de uma defesa emocional que eleve o ser e o faça interagir com o próprio Universo do qual faz parte é a pura filosofia do Tai Chi. Sou apaixonada por tudo isso. Amar a natureza e todos os seus componentes é um dos meus princípios e não poderia estar melhor direcionada do que neste curso da praça dos Bem te vis. Somos uma só energia! Estamos completamente vinculados e precisamos uns dos outros, pois a existência de todos faz parte de uma enorme corrente.
Nota do Editor: Evely Reyes Prado, reyesevely@yahoo.com.br, paulistana, formada em Direito pela PUC-SP, morou em Ubatuba por vinte anos, onde aposentou-se pelo Tribunal de Justiça - SP e foi integrante da APAUBA - Associação Protetora dos Animais de Ubatuba. É autora de contos em Antologias diversas, e dos livros “Tudo Tem Seu Tempo Certo” e “Do Um ao Treze”, encontrados através do site www.scortecci.com.br.
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