Não sei ao certo qual foi o ano em que ela nasceu, mas guardo bem firme nas minhas lembranças o seu sorriso e o seu jeito peculiar de conversar com as pessoas. Sempre muito simpática e cordial no trato com todos, era especialmente carinhosa com sua família e também com os amigos. A entonação do seu timbre de voz a cada palavra dita e o sotaque oriundo do norte da Itália acrescentavam um toque interessante à forma pela qual pronunciava as frases. Tive a oportunidade de conhecer e conviver com esta senhora ao longo dos anos e a satisfação de frequentar sua casa não só nos aniversários, nas ocasiões especiais, comemorações diversas como principalmente no dia a dia. No período em que estivemos mais próximas, já estava viúva de Tulio Dalpiaz e compartilhava sua casa do Perequê-Açu, em Ubatuba, com a filha Fulvia, pois seu outro filho Gino residia na cidade de São Paulo com a respectiva família. Havia sido proprietária de restaurante na cidade de Campos de Jordão e como boa administradora, Chiara sabia executar qualquer serviço, pois somente desta forma poderia exigir de seus empregados um desempenho de excelente qualidade. Exímia na arte da culinária, sabia fazer todo tipo de massa: macarrão, pizza, lasanha e inúmeras delícias que deixava qualquer pessoa completamente boquiaberta, tamanha sua destreza e criatividade. Houve um tempo em que cismamos de comer vôngole. Entusiasmadas com o incentivo desta alquimista dos prazeres da gula, íamos por volta das 4h30 da madrugada, na maré seca, fazer a colheita do tal molusco nas areias da praia do Perequê-Açu. Eu, Eliana de Oliveira e Fulvia Dalpiaz. Tudo era muito fantástico, pois conforme pegávamos o vôngole, um a um, sem que percebêssemos, o sol ia chegando, e os contornos das montanhas iam se delineando, como num passe de mágica. Tudo muito rápido e grandioso! Na sequência, deixávamos os frutos do mar com quem de direito (Chiara, é obvio!) e prosseguíamos com nossas respectivas atividades diárias, completamente felizes com a singularidade daquele início. Ao cair da noite, reuníamo-nos à volta de sua mesa de jantar para saborear aquele belo tagliarini ao vôngole, com o toque que só ela sabia dar. Naquele famoso bingo realizado no Restaurante Bucaneiros, com a presença de Clodovil Hernandes, Chiara esteve presente para prestigiar nossa luta em favor da causa animal, bem como em muitos jantares beneficentes no Restaurante Terra Papagalli, organizados pela APAUBA - Associação Protetora dos Animais de Ubatuba. No dia 04 de outubro, em que os padres abençoam os animais na Igreja de São Francisco, muitas vezes tivemos oportunidade de acompanhá-la com seus cachorros. Sempre respeitou todos os seres vivos, tinha um “coração de ouro” e também era uma mulher de fibra, consciente de suas responsabilidades e deveres. Neste último dia 02 de novembro, pensei bastante nela. Estaria fazendo aniversário. Relembrei situações passadas, as boas risadas que demos, as taças de vinho que compartilhamos e os inúmeros momentos maravilhosos que desfrutamos em companhia de outros amigos. Foram plenos de intensidade e por isso inesquecíveis! Saudade! Ficou muito amor e carinho!
Nota do Editor: Evely Reyes Prado, reyesevely@yahoo.com.br, paulistana, formada em Direito pela PUC-SP, morou em Ubatuba por vinte anos, onde aposentou-se pelo Tribunal de Justiça - SP e foi integrante da APAUBA - Associação Protetora dos Animais de Ubatuba. É autora de contos em Antologias diversas, e dos livros “Tudo Tem Seu Tempo Certo” e “Do Um ao Treze”, encontrados através do site www.scortecci.com.br.
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