Era sábado e como acontecia em todos os finais de semana o futebol estava marcado pontualmente para as 8h da manhã no clube. Mas sabe como é, sábado é um dia meio preguiçoso. Lá pelas 09h15min apareceram os dois primeiros, o Juninho e o Beta, uma abreviação do apelido original que era Beterraba. A dupla chegou e como viu que não tinha ninguém ainda, e como era deles a importante missão de levar a cerveja para a turma, resolveram abrir os trabalhos e estourar a primeira geladinha enquanto aguardavam o restante dos atletas. Ficaram por ali, bebericando e conversando sobre futebol, mulheres e trabalho, não necessariamente nessa ordem. Aos poucos, coisa rápida pode-se dizer, um a um dos jogadores foram chegando, se interando dos assuntos e pegando os seus copos. Precisamente às 11h15min os dois times estavam completos e o futebol já podia começar. Foi que então se depararam com um dilema: ou o Odair atacava de camisa nove no time vermelho ou guiava os espetos para o churrasco de meio-dia. Jogo transferido para as 16h e uma “vaquinha” organizada para buscar mais cerveja, todos os jogadores sentaram-se perto da churrasqueira e o bate-papo rolou solto. Entre uma cervejinha e outra e uma beliscadinha em um pedaço de carne aqui outro acolá, o José que morava bem próximo ao clube, teve a idéia de buscar o cavaquinho em casa para fazer um sambinha, enquanto digeriam o churrasco antes do jogo de futebol. Em pouco tempo, coisa de 45 minutos, ele retornou trazendo além do cavaquinho, mais uma turma que tocava bumbo, pandeiro e violão, mais três mulatas para remexerem os quadris. Roda de samba formada, só tocando sambão das antigas, entretidos em meio às melodias e cantorias, pedaços de carne, nádegas firmes e cerveja, o tempo voou e o relógio marcou 16h. Como o Jorginho e o Mário tinham saído para buscar mais uma rodada de cerveja para abastecer a geladeira, o jogo foi novamente transferido para assim que a dupla de zaga do time azul chegasse das compras. Pontualmente às 17h35mim a bola estava no meio de campo, apesar dos protestos de alguns que queriam ver o final da partida que estava sendo transmitida pela televisão. O dia tinha passado com um jeito de chuva, com algumas nuvens bem pesadas no céu, que resolveram mandar água às 17h40min. O Pedrão, um preto de quase dois metros de altura, disse que não jogaria na chuva porque ainda estava se recuperando de uma forte gripe e abandonou o gramado. O resto da turma, que também não estava muito a fim de jogar, o seguiu e no aguardo que a chuva cessasse, comprou mais uma rodada de cerveja e ficaram por ali contando história um para o outro e tomando uma gelada. Quando o relógio marcou 19h30min, o Teixeira, um dos mais animados com o sábado de futebol, a contragosto, teve que se despedir e ser o primeiro a ir embora, pois tinha que participar do casamento de uma amiga da sua mulher que ele nem lembrava o nome. Chegando a sua casa, a esposa o recepcionou na porta e vendo-lhe com o uniforme de futebol completamente limpo, não refutou e questionou: - Ué! Não teve jogo? E o Teixeira, mesmo engasgando-se no começo, quase deixou transparecer o esquecimento e escapar um “que jogo?” na resposta, conseguiu recuperar o fôlego e encenar uma situação, com um ar de indignação. - Que... que... jogo... Ah! A maior palhaçada os caras fizeram hoje! Armaram tudo para jogar a partida... daí, uma hora um não pode por causa disso, outra o outro não pode por causa daquilo... Palhaçada! Quando a bola realmente rolou começou a chover... resumindo: ficamos o dia todo tomando cerveja e contando mentiras. Um saco! Estava louco para jogar uma bolinha! Vou te contar... mas, também, já decidi... se não sair jogo sábado que vem não vou mais! E a esposa, parecendo convencida com a resposta, apenas replicou: - Ah, tá! Sentindo que a estratégia fora correta e que liberação para o próximo sábado de futebol estava garantida, Teixeira não titubeou e rapidamente trocou de assunto. - Mas que horas é o casamento mesmo?
Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
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