Essa é uma história verídica. O cotidiano da vida nos proporciona a vivência de situações inacreditáveis. Era um desses dias ensolarados, como costuma fazer na primavera, em um ensaio para o verão. O céu sem nuvens deixava o azul tingi-lo com um tom intenso. Orvalhos ainda caíam de folhas e flores no começo daquela manhã de uma terça-feira, mas um ônibus que faz uma linha intermunicipal, ligando dois pequenos municípios, já tinha quase todos os seus assentos ocupados. Dentro do veículo de transporte coletivo, a viagem transcorria normalmente, com o motorista parando nos pontos habituais da linha, pessoas embarcando e desembarcando do ônibus, e, em meio ao vai-e-vem de passageiros, o cobrador de passagem cumpria com as suas obrigações passando de banco em banco. Tudo como normalmente ocorre nesse tipo de viagem. Foi quando que, ao estacionar em uma parada para pegar uma passageira que começou o inusitado diálogo. - Bom dia! -, cumprimenta a mulher, na faixa de 45 anos, parada na porta do ônibus. - Bom dia! -, respondem em conjunto o motorista e o cobrador, que estavam próximos, na parte da cabine. - Vocês passam no município de Butiá*? - Pergunta a mulher, sem embarcar no ônibus. Como em um coral, as vozes do motorista e do cobrador novamente ecoam simultaneamente com a resposta. - Sim! Passamos em Butiá! A mulher faz um breve silêncio e, aproximadamente 15 segundos depois de parecer pensar sobre o que acabara de escutar como resposta, não convencida, ela dispara o questionamento para a dupla mostrando que a dúvida transcende a lógica. - Vocês têm certeza? Motorista e cobrador entreolham-se com expressões faciais que entregam o pensar irônico: “Pô! Nós que conduzimos essa droga não vamos saber para onde ela vai?” E, apesar do leve sorriso no rosto, eles com educação replicam: - Sim! Temos certeza! * Município de aproximadamente 21 mil habitantes no interior do RS.
Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
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