| www.terrabrasil.org.br | | | | Thraupis sayaca. |
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Aquela inquietude das ondas foi o motivo principal para que eu abandonasse minha posição na horizontal e imediatamente passasse a observar o mar através das frestas da janela do quarto. Eram cinco horas, o dia estava amanhecendo e todos os pássaros iniciavam seus respectivos cantos. Não resisti e levantei-me para ir até a varanda, a fim de que pudesse desfrutar melhor de toda essa grandiosidade. São as manifestações da natureza que rotineiramente nos são apresentadas e que para muita gente transcorrem de maneira despercebida. Com o passar dos minutos, tudo foi tomando seu ritmo normal e lentamente já podiam ser ouvidas algumas conversas, alguns latidos e até uma melodia no rádio do vizinho. O filhote de sanhaço que estava na sala dormindo, emitiu o primeiro som do dia, anunciando que a partir de então estava disposto a ser alimentado. Hoje está bem mais esperto do que na data em que caiu do ninho. Esses sete dias foram muito importantes para que criasse mais resistência e é perceptível sua evolução dia após dia. Não consegui visualizar com precisão onde foi construído o ninho do qual ele caiu, mas tenho certeza de que foi do imenso cajueiro existente em frente de casa, que abriga outros de bem te vi, beija-flor e rolinha. No momento em que resolvi, a convite de amigos, vir para cá, na Praia de Morro Branco com o intuito de passar o final de semana, deixei em casa nas respectivas vasilhas a ração e água necessárias aos meus cães e gatos, mas trouxe o filhote de sanhaço, que neste período de vida requer maiores cuidados e alimentação a cada duas horas. Morro Branco é uma das mais belas praias do Ceará, com suas areias coloridas e fica no município de Beberibe, a aproximadamente 80 km de Fortaleza. Deslumbrada com toda essa maravilha e absorta pela jangada que avança mar a dentro, bruscamente fui trazida à realidade, aqui nessa poltrona, com o jingle da campanha política de um dos candidatos ao próximo pleito presidencial. Se minha mãe estivesse no mundo dos vivos, concordaria com minha opinião e a de meu pai em relação ao candidato mais adequado, pois sempre foi pessoa criteriosa quanto às suas escolhas e nunca adepta de conchavos políticos ou de candidatos mentirosos. Infelizmente a verdade muitas vezes não transparece, pois as tramoias realizadas são camufladas e os ingênuos eleitores são levados a confiar nas histórias que lhes contam e não nas que de fato ocorrem. Se o cidadão mais crédulo não ficar atento a tudo que acontece acaba sendo ludibriado com balelas. Ah! Que maravilha seria se conseguíssemos fazer desabrochar todo esse potencial que tem o Brasil! Somos um povo alegre, inteligente e só precisamos de boa vontade. Boa vontade de querer fazer o que é certo, para que mais lá na frente tenhamos orgulho desse país e não tenhamos que ouvir sempre, que “o Brasil não é um país sério!” As pessoas estão acostumadas às malandragens do dia a dia e a safadeza é institucionalizada, de cima para baixo! Política é uma coisa muito séria e não pode ser tratada como uma piada, ou coisa de humorista, pois é o nosso cotidiano que está em jogo e toda a vida de uma população. Muito complexo é o processo do saneamento, mas não é impossível! Tem solução! Só não tem solução para a morte, pois de resto, para tudo dá-se um jeito. Mas há de ser o ideal, não aquele jeitinho brasileiro, mal-afamado, egoísta, desonesto e socialmente injusto. Enquanto penso a respeito das questões eleitorais, chego à conclusão que neste exato instante é fundamental que eu abandone minhas divagações e providencie a alimentação desse Thraupis sayaca, conhecido como sanhaço cinzento, sanhaço do mamoeiro ou saí-açu. Apesar de ser o mais popular dos sanhaços é mais uma dentre as espécies em extinção no Brasil. Alimenta-se de frutas, folhas, brotos, flores de eucaliptos e insetos, inclusive os alados de cupins, capturados em voo. Sua plumagem cinzenta tem tonalidade azul, com as partes inferiores mais claras e as asas verde-azuladas. No caso deste que venho cuidando, por ser muito novinho e nem saber voar, houve necessidade de ser feita uma mistura de água com um composto exclusivo para filhotes de pássaros, adquirido junto a um estabelecimento especializado, que está sendo ministrada com uma pequena seringa, colocada em seu bico. Se tenho a oportunidade de salvar um pássaro, se posso alimentar um animal de rua, se tenho condição de fazer alguma doação a alguém que necessita, se posso ter mais educação para com as pessoas ou se há oportunidade de me tornar mais solidário e ético, por que não? Boas ações retornarão como bons resultados e boas reações. Tal qual aquele conto, onde o menino tentava salvar todas as estrelas-do-mar ressecadas que encontrava pela praia onde passava, embora milhões estivessem a morrer pelos inúmeros oceanos: o fundamental é que cada um faça a sua parte, em relação a tudo com o que se convive, pois somente assim conseguiremos nos tornar verdadeiros seres humanos.
Nota do Editor: Evely Reyes Prado, reyesevely@yahoo.com.br, paulistana, formada em Direito pela PUC-SP, morou em Ubatuba por vinte anos, onde aposentou-se pelo Tribunal de Justiça - SP e foi integrante da APAUBA - Associação Protetora dos Animais de Ubatuba. É autora de contos em Antologias diversas, e dos livros “Tudo Tem Seu Tempo Certo” e “Do Um ao Treze”, encontrados através do site www.scortecci.com.br.
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