Diálogo entre esse cronista e seu espaço da coluna de crônicas. - Bom dia, espaço! - Bom dia. - Ué! O que foi? Por que essa cara? - Nada. - Como nada? - Não tem nada. - Então, se não tem nada, vamos trabalhar! - Não. - Como não? - Porque não! - Por que não? - Estou em greve. - Como em greve? - Ora, como se fica em greve, Ramazzini? Acorda! - Por que em greve? - Cansei! - Por que cansou? - Mas tu fazes pergunta, hein? Que chato! - Preciso saber! Não achas? - Cansei! São seis anos juntos e o que eu ganhei em troca, prezado cronista? - Ora, mas tu és mal agradecido, hein? Toda a semana eu te preencho com idéias, com histórias... Por que não dizer com cultura, hein? - Ah, sim! São seis anos de idéias furadas e ridículas, histórias sem pé nem cabeça, erros de português... E quem coloca a cara para bater, hein? Me diz? Me diz? Euzinho! Eu que tenho que ouvir e agüentar as críticas dos leitores... - Mas quando surgem elogios... Tu gostas, né? - Pelo menos alguém de vez em quando reconhece o meu esforço! - O teu ou o meu esforço? - Egoísta! - Só eu sou egoísta? - É sim! Estou em greve. Espaço fechado. Essa semana não terá crônica! - Por quê? - Porque não! - Só não estou entendendo por que tanta mágoa, hein? Por que tanta revolta, espaço? - Sentimento reprimido, Ramazzini! Sentimento reprimido... - Calma! Vamos conversar... Pô! São seis anos de parceria completada hoje. Não é pouca coisa, não! Achei que não havia segredos entre a gente... Que possuíamos um canal de diálogo constantemente aberto... - Pois é... - Pois é! Aí eu levanto cedo da cama para fazer uma crônica e me deparo contigo em greve. Só queria saber o real motivo... Posso? - Falta de reconhecimento, Ramazzini! Pronto! Falei... - Como assim? - Como assim, Ramazzini? Em seis anos, tu já escreveste mais de trezentas crônicas. Agora me diz: qual delas possui, mas me cita uma, pode ser apenas uma, que fizesse alguma referência ao meu trabalho, me fizesse um agradecimento, uma parabenização... Me diz? - Deixa-me ver... - Não precisa perder tempo. Não tem! Nenhuma delas fala de mim! - Pô! Achei que éramos parceiros no trabalho e que não havia essa necessidade... - Achaste errado! - Tu sabes que é o meu quadrado... Quero diz... Retângulo preferido... - Não sei! Não sou adivinho. Carinho se demonstra na prática. - Então, o que queres que eu faça? - Aproveita que estamos de aniversário hoje e declara para todo mundo o amor que tens por mim! Que sem eu, tu não vives! Essas coisas... - Também, não é assim! - Como é que é? - Calma! Brincadeirinha... Deixa-me pensar... - Vamos, Ramazzini! Sempre cheio de idéias e agora travou, hein? Sem declaração a greve não termina... - Eu... - Anda logo, Ramazzini! - Eu declaro que esse espaço de crônicas é para mim... Pausa... - Por que paraste, Ramazzini? - Porque sim! - Mas por quê? Estava indo tão bem... - Porque acabo de decidir entrar em greve, também! - Ué! Por quê? - Ora, simples: pelos mesmos teus motivos! Há! Há! Há! - Por que está rindo? - Quero ver quem vai escrever em ti agora, espaço!
Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
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