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COLUNISTA
Evely Reyes
06/10/2010 - 10h12
O triste caminho do eleitor
 
 

Enquanto aguardava duas pessoas terminarem o banho na ducha de água doce, iniciei minha pesquisa particular, perguntando ao rapaz mais próximo qual era, no seu entender, o melhor candidato para ocupar a cadeira de presidente.

De imediato respondeu que votaria na pessoa indicada pelo atual governante do País, pois ela daria continuidade à política benemérita por ele desenvolvida.

Inconformada com a réplica, indaguei-lhe se tinha conhecimento das denúncias havidas de corrupção, tráfico de influências e do boato de que um imóvel havia sido adquirido no valor de R$ 47.000.000,00 pelo filho do então presidente, que não mais de cinco anos atrás exercia a função de monitor do Jardim Zoológico!

Categórico, respondeu-me que isso não tinha problema nenhum, pois “se nós estivéssemos lá, faríamos a mesma coisa!”

Completamente indignada, contestei que essa afirmação era indevida, pois seria uma atitude própria dele e não minha. Que portanto ele falasse no singular e não no plural.

Terminado meu rápido banho na ducha, com o objetivo de tirar o sal do mergulho no mar, afastei-me do local sob o olhar irônico e risonho do rapaz com quem havia travado o diálogo acima.

Em seguida, fiquei imaginando a que ponto chegaram as pessoas!

Têm coragem de discutir e defender barbaridades sem nenhum constrangimento. O que na verdade importa é obter uma situação financeira satisfatória, sendo irrelevante o meio pelo qual o objetivo vai ser atingido.

Os valores estão invertidos para uma parcela da população. Talvez sejam pessoas muito materialistas e absolutamente egoístas, que pouco ou nada se importem com o prejuízo causado ao País e a todos os seus habitantes.

Em todas as minhas pesquisas particulares nunca havia encontrado um indivíduo tão sarcástico.

Tenho muita pena de gente assim, pobre de espírito, que vende a alma por qualquer cesta básica; são seres que desconhecem a Lei da Ação e Reação.

Não tem apego a outra coisa senão ao vil metal e a tudo que com ele pode-se comprar. São asquerosos e ridículos nos seus anseios desmedidos.

Se nossos políticos atuam de forma desavergonhada é porque esse tipo de eleitor age de modo descabido. Candidatos com um currículo sujo são capazes de apresentar uma votação expressiva nessa disputa acirrada, independente da prática de falcatruas e outros chegam a ser substituídos de última hora por elemento da própria família em total desrespeito às sanções aplicadas para o excluído malfeitor. E o povo ainda aplaude!

Os estádios de futebol são mais importantes que as escolas e os hospitais e talvez nessa mesma linha de pensamento, a população prefira eleger palhaços, atores, cantores ou jogadores profissionais como se tudo fizesse parte da novela diária do dia a dia e somente tivesse valor o pão e o circo.

Eleição é algo muito sério, e presume-se portanto que as pessoas selecionadas devem estar aptas para o exercício do mandato, sendo possuidoras de condições mínimas de educação e cultura. Serão esses indivíduos os representantes do povo, que a partir de então passarão a escolher os destinos da Nação.

O cargo político não é um emprego e nem deve ser visto como uma forma rápida de se enriquecer.

O povo brasileiro tem que perceber que enquanto a política do País não for levada a sério, com responsabilidade e ideologia, a própria população é quem tem mais a perder, pois continuaremos vivendo uma história de “faz de contas”.


Nota do Editor: Evely Reyes Prado, reyesevely@yahoo.com.br, paulistana, formada em Direito pela PUC-SP, morou em Ubatuba por vinte anos, onde aposentou-se pelo Tribunal de Justiça - SP e foi integrante da APAUBA - Associação Protetora dos Animais de Ubatuba. É autora de contos em Antologias diversas, e dos livros “Tudo Tem Seu Tempo Certo” e “Do Um ao Treze”, encontrados através do site www.scortecci.com.br.
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