Depois de muito tempo sem se verem, dois amigos, que trabalharam juntos, encontram-se em frente a uma padaria. - Olha quem eu encontro. Grande Edgar! Como vai o amigo? - Opa! Grande Rui! Que bom vê-lo, meu amigo! Tudo tranqüilo comigo. E contigo? - Tudo bem, também! Como vai a família? - Tudo bem! - E a Alicia, já casou? - Ainda não, meu genro só enrola! Há! Há! Há! - Há! Há! Há! Será que está se espelhando em ti? Há! Há! Há! - Pode ser! Há! Há! Há! E a Tereza, como vai? - Agora bem. Passou por uma cirurgia há poucos dias, mas vai bem... - Que bom! E os filhos? - Perdidos por aí! Um trabalhando em São Paulo e o outro no Amapá! - Literalmente perdidos por aí! Há! Há! Há! - É verdade! Está trabalhando? - Não! Não! Me aposentei e saí fora. Foi logo depois que tu saíste da empresa. Estou em férias permanentes! - Eu, também! Mas Edgar... Trocando de assunto: soube o que aconteceu com o Mariozinho? - Qual Mariozinho? - Aquele que trabalhou com a gente... Um que tinha um cabelo estranho... - Ah, lembrei! Sei sim! O que aconteceu? - Morreu! - Capaz! Do quê? - Acidente de carro. No mês passado... O pior que eu tinha falado com ele um dia antes... - Que coisa... Nem fiquei sabendo. - Eu fui ao enterro... Coisa muito triste... Ah! Quem morreu, também, foi o Caio... - O Bundinha? - Ele mesmo! - Que coisa! Do quê? - Estava com câncer... Deu umas complicações, lá! Não sei bem. O enterro lotou! Tinha cruzado com ele no mesmo dia... - Que coisa! - Daquela nossa turma, quem morreu também foi o Mariano... - Capaz! - Também, o homem se entregou para o trago de uma maneira... Nem se sabe do que morreu. Eu que encontrei o infeliz morto dentro de casa... Quase ninguém no enterro, até deu pena. Fazer o quê! Ele quis assim... - Pois é... É o Norberto? - Não soube do que aconteceu com o Norberto? - Não! O quê? - Morreu, também! - Capaz! - Arãn! O “véio” arranjou uma namorada mais nova e não resistiu... - Mesmo? - Arãn! Morreu do coração! Liguei para ele no final da tarde e quando caiu à noite chegou à notícia... - Há! Há! Há! Nem presta o cara rir, mas chega a ser irônico! - É verdade! Mas o pior foi no velório com a ex-esposa e namorada chorando uma do lado da outra... Uma cena cômica! - Só imagino! Há! Há! Há! - Pois é... - Com esse monte morte rondando a velha turma... Nós é que temos que nos cuidar! - Há! Há! Há! É verdade! - E o Ernesto? Têm notícias? Não me vai dizer que morreu, também? - Não! Não! Falei com ele ontem estava muito bem... Só um pouquinho que o meu celular está tocando, Edgar. É a minha mulher... - Ok... Um minuto depois... - Não vais acreditar, Edgar! Minha mulher acabou de me dar à notícia. O Ernesto morreu! - Capaz! Do quê? - Ela não soube dizer... - Que coisa! - Bom! Vou lá ver se a família não precisa de alguma coisa... - Está certo! - Eu te ligo para dar detalhes do velório e do enterro... - Está bem! - O número do telefone da tua casa continua o mesmo? - Arãn! - Então, tá! Vou lá! Bom te ver! - Igualmente, tchau! - Adeus, amigo! Edgar deixa o amigo Rui partir e falando sozinho, depois de um longo suspiro, indaga-se: - O que será que tem esse homem que quem fala com ele morre? Coincidência ou mau-agouro? Então, dando-se conta que poderia ser o próximo, reflete: - Meu Deus! Serei eu a próxima vítima? Assustado e “suando frio”, Edgar faz discretamente o sinal da cruz e esquecendo-se do que compraria na padaria, ruma com todo o cuidado para casa.
Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
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