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Contos
28/09/2010 - 11h02
Estágio... Começo e fim em ciclos
Antonio Brás Constante
 

Antes de começar um frio percorre sua espinha, antecipando o medo do novo estágio. Trabalhar com pessoas estranhas, tendo de aprender uma série de rotinas totalmente desconhecidas do que agora é seu mundo.

No primeiro dia a sensação de mal-estar se concentra no estômago. As horas vão passando, cheias de nomes e serviços que entram e saem de sua cabeça. Tudo é tão intenso, tão surreal. A cada momento algo novo, seja um rosto, uma tarefa ou um local dentro da empresa. Você não parece pertencer aquele lugar. Sentimentos de solidão e desamparo lhe possuem, lhe abraçam, acompanhando você na sua jornada de trabalho.

Chega o final do primeiro mês. A insegurança diminui diante de cada novo dia. Aos poucos começa a fazer parte daquele lugar. Não confia totalmente nas pessoas, mas o sentimento de acolhida de algumas lhe faz bem. A neblina do desconhecido desvanece. Vai conseguindo ir adiante, apesar dos tropeções, normais quando se está aprendendo. Aos poucos passa a se sentir como um membro da equipe.

Após seis meses o sentimento que se tem é de que já é uma peça integrada a engrenagem daquele ambiente. Vários amigos conquistados. O domínio do trabalho que antes lhe assustava, agora é algo corriqueiro. Ainda há tanto para aprender, mas como é gostoso poder fazer as tarefas por suas próprias mãos, independentemente na maioria das vezes. Você tem as suas coisas, gavetas, folhagens, padronizações, fazendo cada vez parte do dia-a-dia da Empresa.

Então vem o final do primeiro ano. Alguns amigos se vão. Um cansaço toma conta de seu corpo e mente. Tanto tempo já se passou. Parece que faz anos e não meses que está ali. A partir desse momento, cada dia não será mais um dia. Agora a contagem é regressiva. Metade do estágio passou. Como um ano passa rápido.

Faltam seis meses para o final do seu contrato. Tantas pessoas novas nos setores. Você sente que sabe tudo do qual é encarregado. Está ciente do lugar de cada pasta. Têm disponíveis em sua memória todos os contatos profissionais. Possui o conhecimento calejado dentro de si. Ensina os novatos, e se sente importante pelo domínio que tem das tarefas que executa. Vez que outra se despede de outros veteranos, logo será sua vez.

Começa o último mês na Empresa, difícil de acreditar que se passaram quase dois anos desde o primeiro dia. Quanta coisa aprendeu ali. Conhece cada pessoa e equipe. Sente-se como parte do lugar, como a mobília. Tantas alegrias e tristezas vividas. Não parece justo ter que sair. Você gosta do que faz, porém, logo terá de ir embora, mesmo não querendo. Pena, apesar de tudo, adora estar ali, não queria que acabasse assim.

Último dia. Nos olhos dos colegas a saudade de alguém que está partindo, e a dor da perda daqueles que tiveram seus corações tocados por você. Um nó na garganta insiste em lhe fazer chorar. O dia é tão normal, tão parecido com os outros, com exceção que este é o seu último dia. No seu pensamento agora vem o gosto amargo do ressentimento ao lembrar que todo seu conhecimento será descartado, em sua maioria perdido. As suas gavetas passarão para outro, suas rotinas, anotações, pastas, tudo. Parece que sua vida será transferida para uma nova pessoa, que começara do zero em seu lugar, vivendo o que você viveu. É como se arrancassem parte de você. É cruel, mas não há o que se fazer. Somente aceitar. Você sabia das regras quando começou a trabalhar ali. Regras no papel, tão frias quando confrontadas com as lições da vida.

Um dia após o término do estágio. As sensações de vazio, tristeza e saudosismo mesclam-se em seus pensamentos. Você não verá mais todas aquelas pessoas, nem passará mais por aqueles corredores. Após dois anos tudo acabou. Não faz mais parte daquele lugar. Agora seu caminho é outro. Diferente daqueles com quem você por tanto tempo conviveu. A partir desse momento o jeito é respirar fundo e planejar um novo emprego. Quem sabe outro estágio. E quando acontecer, provavelmente um novo calafrio percorrerá sua espinha. Tudo novo... De novo.


Nota do Editor: Antonio Brás Constante (abrasc@terra.com.br) é escritor.

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