Como a maioria das crianças, na minha época, convivi mais tempo com minha mãe do que com meu pai. Isso era algo normal há cinquenta anos atrás, pois rara era a mulher que trabalhava fora, a não ser por grande necessidade financeira ou em razão dela ser separada do marido. Por questões particulares fui abençoada com a presença constante de minha mãe, que fazendo uso desta oportunidade, preferiu deixar de exercer seu cargo contábil no estabelecimento comercial de propriedade de meu avô. Parece que estou vendo seu jeito e ouvindo suas observações, dizendo como era errado ser egoísta com a família, com os meus amigos, com as pessoas desconhecidas e o porquê desse tipo de comportamento não ser digno e impróprio para gente de bem. Entendia ela que essa sensação que a criança tem de querer ser o centro das atenções é natural, pois faz parte de sua fase inicial, onde nada tem importância além de si própria. Minha mãe também era adepta da teoria de que cabe aos pais ou responsáveis principiarem os ensinamentos básicos para a formação da personalidade da criança, mostrando que o mundo em que vivemos é algo maior e mais complexo, composto por milhões de seres vivos, com diferentes quereres, necessidades, direitos, deveres e que todos devem ser respeitados. Certos cuidados são essenciais e é fundamental que sejam repassados no momento certo, em quantidade e qualidade precisas, a fim de que possam surtir efeito positivo. É difícil não ser egoísta, pois o próprio sistema nos remete e nos instiga a isso. Há que se ter firmeza de princípios para lutar contra a maré. Não é porque assistimos diariamente pessoas agindo de má-fé que necessariamente temos que praticar atos nocivos em detrimento de alguém. Ao escutarmos ou assistirmos as propagandas políticas, por exemplo, somos levados a crer que os candidatos aos cargos do Poder Legislativo e Executivo são as pessoas mais altruístas existentes na face desse Brasil varonil. Na prática é uma doce ilusão, pois são seres egoístas e ignóbeis, que conseguem mascarar muito bem o mar de lama que os rodeia e é pilar de sua própria vida. Ser egoísta está intimamente ligado a ser ignóbil, pois preocupar-se única e exclusivamente consigo mesmo, agindo em proveito próprio, gera como consequência um comportamento desprezível e nem um pouco nobre. Em razão dos inúmeros privilégios, das oportunidades de enriquecimento ilícito ou até pelo prazer de estar-se no poder eles permitem que seu lado vil aflore completamente. Não estão preocupados com o futuro do país, com a qualidade de vida de seus habitantes, com o saneamento básico, com o analfabetismo ou a qualidade do nosso ensino, pois a ética passa longe das intenções desses candidatos. São pessoas que não tiveram uma educação adequada e em virtude disso são egoístas. Não estão incomodadas em agir de maneira indigna, agredindo e prejudicando o direito de outros. Ignorantes, sem conhecimento de que toda ação tem uma reação preferem marcar sua existência de forma hipócrita, plena de subterfúgios, carente de essência, de amor e compaixão. São verdadeiros estelionatários e fazem a própria história calcada na pobreza de espírito. É! Minha mãe estava absolutamente certa! Esse comportamento egoísta não é próprio de gente de bem!
Nota do Editor: Evely Reyes Prado, reyesevely@yahoo.com.br, paulistana, formada em Direito pela PUC-SP, morou em Ubatuba por vinte anos, onde aposentou-se pelo Tribunal de Justiça - SP e foi integrante da APAUBA - Associação Protetora dos Animais de Ubatuba. É autora de contos em Antologias diversas, e dos livros “Tudo Tem Seu Tempo Certo” e “Do Um ao Treze”, encontrados através do site www.scortecci.com.br.
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