- Amor! - Hã? - Cheguei... Está na sala? - Estou... - Fecha os olhos, então! - Por quê? - Tenho uma surpresa! - Boa ou ruim? - Vai mudar a nossa vida! - Opa! - Pois é... Fecha os olhos! - Vai mudar para o bem ou para o mal? - Para o bem! - Fecha os olhos! - Já fechei! - Vou contar até três, aí tu abres os olhos: uuuuum, dooooois, três. Pronto! - Mas o que é isso, Gisele? - O nome dela é Glória! Em homenagem a chiquérrima Glória Kalil! - Uma chinchila, Gisele! Para que tu queres uma chinchila? - Ué! Como animalzinho de estimação, ora... - Esses bichos são cheios de frescuras para cuidar, Gisele! Sem falar que se gasta um nota... - Já fui a um veterinário e peguei todas as dicas de como cuidar bem da Glória. - Meu Deus! Era só o que me faltava... - Não te preocupa que a Glória nem vai incomodar, né Glória? Está com fome, está? Vamos comer então... Em um bar. - Essa foi a conversa que eu tive com a Gisele. Quando ela falou não te preocupa, eu gelei. Conheço a minha esposa. Sempre dá problema quando ela diz isso... - Mas e aí, Fabão? O que aconteceu? E a chinchila? - Nico! Acertei na mosca. A droga da chinchila só incomodou! Primeiro, que a Gisele não desgrudava e não parava de falar no bicho. Segundo que, em todos os lugares tinha aquele monte de pêlo. Era dentro do meu sapato, em cima da cama, no sofá... Um inferno! - E aí? - Ah! Sem falar que o bichano fez voltar a minha rinite alérgica. Eu não parava de espirrar! - Há! Há! Há! Mas e aí? - E aí que eu precisava me livrar daquele animal! - Fazia quantos dias que ele estava no teu apartamento? - Três! Mas eu não agüentava mais! - Há! Há! Há! E aí? Matou o bicho? - Não! Não! Qualquer atentado contra a chinchila eu seria o principal suspeito. Não achas? - Sim! Sim! E daí? - Tentei conversar com a Gisele, dizendo que o bicho estava atrapalhando a nossa vida, o nosso casamento, coisa e tal... Me pergunta se deu certo? - Lógico, que não! Há! Há! Há! - Tu sabes que mulher quando coloca alguma coisa na cabeça ninguém tira... - Pois é... - Matar ou sumir com o bicho eu não podia... Nem mandar matar... Como te falei, eu seria o principal suspeito... - Há! Há! Há! E aí? - Foi então que eu tive a idéia. Por ironia, sentado na privada do banheiro... - Pula esses detalhes... Há! Há! Há! - Tá bom! Há! Há! Voltando à história. Foi então que eu tive a idéia para me livrar do bicho. Forjei um documento, como se o pessoal do condomínio tivesse mandado, dizendo que não podia se criar animais que não fosse cachorro, gato e passarinho... - E não pode? - Claro que pode! Lá, é liberado... - E aí? - E aí quando a Gisele chegou do trabalho, eu mostrei o documento... - Foi aquela gritaria? - Foi! Gritava que aquilo era um absurdo, uma discriminação, queria se mudar, coisa e tal. Fez um escândalo! - Só imagino! Mas ela não correu no síndico para se certificar e cobrar? - Claro... Direto! - Por que essa cara de riso? Eu não acredito... - Nada como a cumplicidade masculina e uma dúzia de cerveja para se resolver um problema como esse... Não achas? - Há! Há! Há! Não acredito! Comprou o síndico. E deu certo? - Depois de muito espernear e bater boca, sim! - E, afinal, onde foi parar a chinchila? - Essa hora a Gisele deve estar levando o bicho em algum lugar para doação. - Há! Há! Há! Então, um brinde a chinchila! - Um brinde ao futuro da chinchila!
Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
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