Depois de cinco anos, onze meses, vinte e quatro dias, doze horas e quinze minutos de namoro. - Luiz Fernando... Quando a namorada Marilda o chamava pelo nome e não pelo apelido “paixão”, como habitualmente, ele sabia que o assunto era sério. - Fala... Estavam em frente à casa de Marilda, dentro do carro, após retornarem de uma pequena festinha familiar, em comemoração a formatura de graduação de Luiz Fernando. O assunto daquela conversa era de conhecimento prévio, no entanto, ele não esperava por um detalhe. Sem rodeios, Marilda, com a expressão séria, foi direta no questionamento. - Pronto. Formado. Agora, chegou à vez de marcares a data do nosso casamento. Quando será? Ou... Aquele “ou” deixou-lhe intrigado. Era a primeira vez que aparecia dentre as inúmeras vezes que Marilda o indagava sobre casar. Luiz Fernando era perito em enrolá-la, entretanto, sabia que certa oportunidade realmente havia prometido marcar a data do casamento depois de formado na universidade. Para ganhar tempo e pensar em uma saída, respondeu a pergunta com outra. - “Ou” o quê? - Ou terminamos o nosso namoro. Eu não agüento mais ser enrolada! Pronto. Mais uma vez, Luiz Fernando defrontava-se com a fatídica questão. Contudo, foi surpreendido pelo tom de ameaça que foi proferida. Sabia que a namorada não estava brincando. Até pretendia casar com Marilda, amava-a, porém achava que ainda estava muito cedo para “juntar os panos”, apesar do tempo de namoro. Ameaçado, pediu um tempo. - Amanhã, dou-te a resposta. Pode ser? - Amanhã até o meio-dia!, respondeu Marilda. Ganhara o tempo. Pouco, mas o suficiente para encontrar uma saída. Passou parte da noite em claro pensando em uma alternativa. Foi quando, bebendo um copo de água na cozinha de casa, enxergou um calendário grudado na geladeira, que a “ficha caiu”. Sorriu e foi dormir tranquilamente, com um plano bolado em seus pensamentos. No dia seguinte, às sete horas da manhã, Luiz Fernando liga para Marilda. - Alô! - Bom dia, Marilda! - Bom dia, paixão! - Já tenho a resposta para a tua pergunta de ontem... - Mesmo? Aí que bom! Não vejo à hora de ficarmos juntinhos para sempre! Coisa boa... Quando será o nosso casamento? Estrategicamente e com calma, repetindo a pergunta, Luiz Fernando começa a colocar o plano em prática. - Bom! Tu querias que eu marcasse a data do nosso casamento, correto? Entusiasmadíssima, Marilda responde explodindo em emoção. - Lógico! É o que eu mais quero nessa vida! - Então, foi o que pensei, também. Por isso escolhi uma data muito especial... Pausa na fala, seguido de um instante de silêncio. Um silêncio programado por Luiz Fernando, pois conhecedor da curiosidade de Marilda, logo ela gritaria histérica ao telefone. Foi o que aconteceu. - Fala logo, paixão! Estou morrendo de curiosidade! Meu Deus! Fala! Fala! - Bom... Bom... Será no primeiro sábado em que caíres o teu aniversário. Comemoramos as duas coisas juntas. Será um dia marcante. O que achas? - Que ótima idéia, paixão! Aprovado! Nem acredito que marcaste o nosso casamento! Preciso contar isso para a mamãe! Meu Deus! Não estou acreditando! - Mas podes acreditar! - Estou sem calendário aqui. Quando será... Silêncio. Passando a emoção da notícia e retomando a lucidez, Marilda refletiu por alguns instantes e, desconfiada, fez a indagação óbvia para a situação. - E quando será que o meu aniversário cairá em um sábado? Foi então que, Luiz Fernando proferiu a sentença final. - Em 2015!
Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
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