Eu era muito pequena quando ouvia as histórias da menininha que entrava pelo espelho e encontrava do outro lado um mundo mágico. Era para mim um encantamento. Fechava meus olhos e voava com Alice pelos jardins, castelos e também por lugares sombrios. O mundo do outro lado do espelho tinha graça, cor, bom humor, música e medo. Não era um medo qualquer. Era um medo que atiçava a coragem. O medo adorava ser enfrentado pela coragem. Então, quando me sentia muito só ou mesmo entristecida, porque crianças também sentem tristeza, corria até o velho guarda-roupa em busca de Alice. Havia neste guarda-roupa de cor branca e gasta pelo tempo, duas portas laterais e no meio um grande espelho que refletia o pequeno e único quarto da casa. Aproximava-me de mansinho e rapidamente abria uma das portas na tentativa inútil de também entrar naquele mundinho mágico e colorido. Pensava que, um dia estando nele, nunca mais voltaria. O tempo passou. O espelho descascou-se perdendo a vivacidade do reflexo. O pequeno quarto sumiu. A menina cresceu, mas ainda procura em outros espelhos o espelho que um dia guardou com ele sua alegria e suas esperanças.
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