Pela manhã, no caixa de uma pequena cafeteria. - Quanto? - Era só o café, né? - Isso! - Um e cinqüenta. - Ó... Não tenho menos... - Não tem menos mesmo? Tu és o segundo que me aparece aqui hoje com uma nota de cinqüenta... Nem umas moedinhas? - Pior que não tenho... - Vou ficar sem troco... - Pior que não tenho mesmo. Passei no banco antes de vir aqui. Só tenho essa nota, aliás... - Vou ter que te dar tudo de moeda... - Como é que é? Não escutei... - O troco! Vou ter que te dar tudo de moeda... - Pô, meu camarada! Levar quarenta e oito reais e cinqüenta em moeda é dose, hein? - É o que eu tenho... - Em moeda, eu não quero. - É o que eu tenho. É pegar ou largar... - Em moeda não! Isso é um absurdo não ter troco. - Troco eu tenho, o senhor que não quer levar... - Não tem como um funcionário trocar esse dinheiro em algum lugar? - A casa está cheia! Não tem como alguém sair agora... - Meu Deus! Então, me devolve o dinheiro que eu mesmo vou a algum lugar trocar... - Quem sabe o senhor passa aqui à tarde. Daí, já tem troco... - O senhor está achando que vou lhe roubar? Que vou fugir como seu dinheiro do café? - Eu lhe faço a mesma pergunta. O senhor está achando que vou lhe roubar? Que vou fugir com o seu troco? - Que absurdo! Não posso deixar o cafezinho pendurado? Eu passo aqui depois e te pago. Eu trabalho na loja amarela, no final da rua... Já tomei café aqui antes... - Não vendo fiado! - Não é fiado... - Se eu abrir uma exceção para o senhor... Vai chover gente pedindo para pagar depois também... - Que absurdo, meu Deus! - Fazer o que... - Isso que eu lhe pergunto: vamos fazer o quê? Eu quero o meu troco! - Já disse! Passa aqui depois que já tem troco... - Eu não saio daqui sem o meu troco! Seu pilantra! - Tu que é pilantra! Seu sem vergonha... Foi então que começou uma discussão mais áspera. Com palavras impublicáveis. Estava armada a confusão na pequena cafeteria. As pessoas que aguardavam na fila do caixa começaram a assistir um festival de baixarias. Cogitaram até em chamar a polícia. Os ânimos só se acalmaram depois que outro cliente resolveu incluir o café de R$ 1,50 em sua conta e acabar com o tumulto. O “devedor” e o “pagador” saíram juntos da cafeteira, pararam em uma esquina próxima e começaram a conversar: - Muito obrigado por pagar o café para mim! - Não foi nada! - Esses donos de boteco são muito espertos. Pra cima de mim, não! Mas toma... - O que é isso? - O dinheiro do café. - Não estou entendendo. Por que tu não deste esse dinheiro na cafeteria e evitaste aquela confusão toda? - É que eu queria trocar aquela nota de cinqüenta conto, mas não por moeda, como ele queria me dar... Entende? A confusão recomeçou na esquina. Mas desta vez tiveram que chamar a polícia...
Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
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