Na sala de casa. - Pai! - Ãhn? - Paaaaaai! - O que é? - Tô falando contigu! - Não está vendo que estou assistindo TV? - É que eu precisu... - Não dá para deixar terminar o telejornal? - É urgenti. - Fala então... - É que eu... - Fala de uma vez! - É que eu tô apaixonado pela minha professora... - Ah, só isso? - Só isso, pai? Ela é o amor da minha vida e tu pergunta “só isso”? - Quem na sua idade não se apaixonou pela professora, hein? - Sei lá! Mas eu amu ela! - Isso passa! Agora, não me enrola e pode voltando para o teu quarto fazer o dever de casa... - Mas é que... - Não quero ouvir reclamação! - Mas pai! - Agora! Minutos depois, na cozinha. - Amor! Escuta essa: o Gustavo acabou de me contar ali na sala que está apaixonado pela professora... - Ah era isso? Escutei qualquer coisa daqui, mas não entendi a história... - Diz que é o amor da vida dele! Coisa de guri... Eu era apaixonado pela minha professora também na idade dele... - Ele não é o primeiro na escola que se apaixona por essa professora. Ela é nova por lá. Chegou essa semana. Mas eu fui largar ele ontem e ouvi outras mães falando a mesma coisa sobre a paixão dos filhos... - Coisa de guri! Passa. Será que a conheço? - Não sei! Agora para de mexer nas panelas e volta para a sala... - Que horas fica pronta a janta? - Daqui a pouco... Está me atrapalhando! Vai Paulo... Vai... No outro dia pela manhã. Era dia de Paulo levar Gustavo de carro a escola. Ao chegarem em frente ao prédio... - Paaiiii! Paaiiii! É ela... Olha ali... - Ela quem? - A professora! Minha namurada... Paulo aprecia por alguns segundos o remexer dos quadris da professora ao caminhar e pensa: “É gostosa a professorinha mesmo... O guri tem bom gosto... Esse é o meu garoto!”. - Ela é linda, né pai? - Muito bonita! Agora desce! O pai já está atrasado para o trabalho... - Tchau, pai! - Tchau! Paulo despede-se do filho com um beijo e olha novamente para a professora. Então, se dá conta que aquele par de nádegas lhe era familiar. Arrepiou-se. Proferiu um palavrão, e, depois de ouvir a buzina insistente do carro que estava parado atrás, rumou para o escritório. Ao chegar ao trabalho, foi direto ao telefone. - Alô, Rachel? - Já sei! Já sei, Paulo! O que está usando um abrigo esportivo roxo é seu filho... Já descobri! Sou professora dele... - Qualquer gracinha com ele... - É só andares na linha que eu não conto que ele tem um irmãozinho do paizinho dele fora do casamento... - Estou te avisando: qualquer gracinha com ele... Eu te mato! - Vê se te enxerga, Paulo! - Estou avisando! - Ah! Foi bom ligar. Quero o dinheiro na minha conta até amanhã, viu? - Sua... - Olha o que vai dizer... À noite, já em casa, Paulo comenta com a esposa. - Sabe amor! Estou preocupado com o Gustavo. Só fala da tal professora. Falou o caminho todo hoje. Isso está passando dos limites. Será que não era de trocá-lo de escola, hein? O que achas?
Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
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