Em um velório. - Opa! - Opa! - Recém chegou o corpo? - Não! Foi pela manhã... - Assim que fiquei sabendo vim para cá. - Ah sim... - Morte triste, né? - Pois é... - Não que exista morte alegre, mas neste caso... - É... É a vida, meu senhor! - A vida não é justa mesmo! Uma pessoa tão boa... - É verdade! - Eu não entendo porque isso acontece... - Acho que ninguém, meu senhor! - As pessoas boas geralmente têm uma morte triste. Já notaste isso? - É, meu senhor! - Enquanto muitos marginais que andam por aí morrem de velhos... - Pois é... - Mas o importante é que viveu uma vida feliz, não achas? - É, meu senhor! - Foi uma pessoa boa em vida... - Isso foi... - Deixou nos amigos e familiares só boas lembranças... - Deixou, meu senhor! - Por isso deve estar ao lado do velho lá em cima agora... - Com certeza, meu senhor! - Amém! - Amém! - O que eu não entendo é porque Deus dá uma vida tão curta para as pessoas boas... - Pois é... - Essa mesmo... Conheço desde criança... Praticamente vi nascer... Agora está aí, tão nova, em um caixão... Difícil de acreditar! - É verdade, meu senhor! - Vou ali rezar perto do corpo, meu filho! Daqui uns dias sou eu e espero que façam isso por mim... - Vá lá, meu senhor! Álvaro que conversara com o senhor, deixa-o se afastar e, então, chama o primo Wagner e cochicha: - Quantos anos tu achas que aquele velho ali tem? - Não sei! Uns setenta. Por quê? - Ele disse que conhece a vovó desde criança... - Há! Há! Há! - Pára de rir! O pessoal está olhando... - O velho está no velório errado ou é louco... - Uma das duas... - Quantos anos a vovó iria fazer mesmo? - Cento e quatro, em setembro...
Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
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