Na sala do chefe. - Está errado! Refaz... - Mas chefe! É que... - Não quero saber. Esse trabalho está uma droga! Um lixo! É uma vergonha me apresentar algo assim... - É que eu direcionei esforços para... - Direcionou errado! Isso só comprova a sua incompetência! - Mas eu enfatizei o que... - Não tem desculpa! Fazia tempo que eu não via algo tão ruim... Quero ver um novo daqui a três dias... - Mas o que o senhor quer que eu... - Te vira! Eu quero um novo... E pode sair... Sai! Sai! Depois de ir ao banheiro, Solange com os olhos ainda marejados, retorna para o local de trabalho e conta para a colega o ocorrido. - Por que estás chorando, Solange? - Acabei de vir da sala do chefe... - Bah! Era o que tinha imaginado... Está azedo hoje? - Ele odiou a apresentação que eu fiz! - Capaz! - Um mês em cima desta droga para ser humilhada... - E o que eu vais fazer? - Vou ter que refazer! Tem outra saída? - É... Acho que não! - O pior é que tenho três dias para refazer (a apresentação ou o trabalho)... - Lembra que hoje é sexta-feira? - Putz! - Já era o teu final de semana! - Pior. - Porque ele vai querer ver na segunda-feira de novo... - Com toda a certeza! - Não vou me oferecer para ajudar porque já marquei um compromisso... - Nem esquenta! Eu já tenho um plano... - Ah é? Qual? - Deixa assim... Na segunda-feira, depois de reapresentar o trabalho para o chefe. - E aí, Solange? Como foi? - Tudo perfeito! - Ele gostou do resultado final desta vez? - Adorou! Até elogiar, elogiou... - Capaz! Isso é um momento raro. Para entrar na história... - Pois é... - Mas te matou muito no final de semana para refazê-lo? - Não! - Não? - Não! - Mas qual foi a mudança que fizeste para ele gostar tanto desta vez? - Nenhuma! - Nenhuma? - Nenhuma... Só reorganizei o conteúdo da apresentação e troquei algumas cores... - Só isso? Duvido! Aposto que te insinuou para o velho! - Que nojo! Claro que não... Deixa de ser abobada. - Conta o segredo, então... - Só disse antes de reapresentar o trabalho, que desta vez tinha seguido à risca todas as recomendações conforme ele havia anotado... - Não tinha falado que ele havia dado recomendações... - Mas ele não deu recomendação nenhuma. - Capaz! Mas quando tu falaste isso, o que ele disse? - Não disse nada! Apenas ficou me olhando... - Tentando se lembrar que recomendações ele teria dado. - Exatamente! - E daí? - Daí, ele me olhou... Olhou o trabalho... Pensou um pouco e disse: agora sim! Brilhante!
Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
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