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COLUNISTA
Rodrigo Ramazzini
05/02/2010 - 07h14
Impulsivo
 
 

- Bom te ver, meu filho! Quanto tempo, né? E a Sônia?

Lúcio estava na fila do banco quando fora surpreendido pela indagação da Dona Jurema. Nem a vira chegar ao seu lado. Refletia distraidamente sobre os últimos atribulados acontecimentos da sua vida quando sofrera o questionamento. Dona Jurema fora sua vizinha durante um ano, logo que casou com a Sônia, quando morou no bairro central da cidade. Ele abriu um “sorrisinho amarelo” e respondeu secamente:

- Quanto tempo mesmo.

Estava separado de Sônia há duas semanas. Foram seis anos de casamento. Ainda sofria com a decisão e marejava os olhos quando falava no assunto para os amigos. A ferida era recente e estava muito aberta. Não queria falar da situação, nem de Sônia, nem de nada. Queria ficar quieto sem ser incomodado, corroendo a própria dor. Mas Dona Jurema insistiu:

- E a Sônia? Vai bem?

Fez um breve silêncio antes de responder. Olhou para o chão, pensou se contava ou não da nova realidade. Uma mentirinha não causaria grandes estragos. Mas não deixaria de ser uma mentira. Gostava da verdade. Mas não queria falar no assunto. Mesmo constrangido, respondeu sucintamente sem querer alongar o bate-papo:

- Vai bem...

Dona Jurema repetiu por duas vezes o - Vai bem... Vai bem, e não satisfeita continuou:

- Que bom! Tinham me falado que vocês haviam se separado...

E agora, pensou Lúcio. Contava ou não da separação. Movido pela curiosidade para saber o que estavam falando pelas ruas, resolveu colher mais detalhes do que ela sabia sobre o assunto.

- Ah é, Dona Jurema?
- Sim, meu filho! Alguém me falou na semana passada. Me contaram até que...

Quando a Dona Jurema iniciou o “me contaram...” Lúcio se arrepiou todo. Suou frio. Quase desmaiou. Não acreditava que o ocorrido já estava na boca do povo. Boa parte da fila do banco, mesmo disfarçando, acompanhava a conversa entre eles. Decidiu então reagir antes que ela terminasse a história e contasse a sua versão para o fato. Mostrando certa irritação ao falar, soltou o verbo:

- Pois é, Dona Jurema! Já aumentaram a história... Bando de fofoqueiros! Isso que estão falando que peguei a Sônia com outro em cima da nossa cama não é verdade! A história não foi bem assim...

Silenciosamente, o pessoal da fila do banco olhou Lúcio da cabeça aos pés. Dona Jurema, com um ar de surpresa após ouvir a confissão de Lúcio, apenas replicou de forma espantada:
 
- Ah é? Isso eu não sabia! Falaram apenas que já estavas morando com os teus pais...


Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
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