“Escolas deveriam ter biblioteca na grade curricular”
No comando de duas das mais importantes instituições do mundo do livro no Brasil – o Sindicato Nacional de Editores de Livros (Snel) e o Instituto Pró-Livro –, a editora Sônia Jardim vê inúmeros avanços na questão do livro e da leitura nesta década no País. Do lado do governo, cita a criação do Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL) e a maior articulação entre os ministérios da Cultura e Educação, além da desoneração fiscal. Dos editores, lembra do apoio às políticas públicas, da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil e dos esforços para baratear o preço dos livros, como o lançamento das coleções de livros de bolso. “Entretanto, ainda não foi suficiente”, adverte ela, em entrevista exclusiva à agência de notícias Brasil Que Lê. E cita como exemplo o grande número de alunos que saem da escola sem ter adquirido o prazer ou o hábito de ler. “Na minha opinião, a escola deveria ter uma hora de biblioteca na grade curricular, como um momento de prazer num ambiente agradável”, completa. O Brasil está prestes a completar a primeira edição trienal (2006/2009) do seu primeiro Plano Nacional do Livro e Leitura. Isso foi bom para o País ou não chegou a ser suficiente? Sem dúvida foi bom. O lado positivo do Plano Nacional do Livro e a Leitura foi a articulação entre o Ministério da Educação, o Ministério da Cultura e a sociedade civil, identificando e estimulando iniciativas em favor do livro e leitura. Muito se falou de livro e leitura nestes 3 anos. Entretanto, ainda não foi suficiente. A cada ano, continuamos tendo alunos saindo da escola sem ter adquirido o hábito e o prazer da leitura. O que o País avançou na atual década e, particularmente, nos últimos anos? O hábito da leitura tem correlação com o nível de escolaridade e renda. As estatísticas do IBGE demonstram o aumento considerável que ocorreu na última década de pessoas com nível universitário. São leitores em potencial. Quanto à renda, também assistimos na última década um aumento no poder aquisitivo, principalmente da classe C e D. Várias editoras estão atentas a esta parcela de leitores, desenvolvendo produtos mais baratos como os livros de bolso e usando canais alternativos, como o porta a porta, lojas populares ou catálogos, para chegar a este leitor. Vale aqui uma menção à desoneração do PIS e COFINS, concedida pelo Governo Federal no final de 2004, que permitiu a queda do preço médio do livro vendido a partir de então. O que ainda está por ser feito na área do livro e leitura? Na minha opinião, a escola deveria ter uma hora de biblioteca na grade curricular. Seria um momento em que a turma de alunos ficaria na biblioteca, cada um exercendo sua livre escolha do que ler. Estaríamos formando não só o hábito da leitura, bem como o hábito de frequentar uma biblioteca. Este local deveria ser bem instalado, alegre, de forma a que ao sair da escola este cidadão passe a frequentar as bibliotecas de sua cidade. Da mesma forma, as bibliotecas não-escolares deveriam ser ambientes agradáveis, funcionando em horários amplos, inclusive nos finais de semana, com acervo atualizado, que desperte o interesse dos seus visitantes. Que papel o Sindicato dos Editores enxerga para si como um dos atores sociais de relevância na questão do livro e da leitura no País? E o Instituto Pró-Livro? O papel do Snel é a defesa da atividade dos editores de livros. Não haverá livro e leitura neste país se não tivermos uma indústria forte, viável, rentável. Para tal, defendemos as questões de direito autoral, fator fundamental para garantir a sobrevivência do autor e do editor. Esta é a base da nossa atividade. Esta questão é fundamental no momento em que se fala tanto em pirataria, cópia e em livro digital. O Instituto Pró-Livro nestes quase 3 anos de existência patrocinou inúmeras iniciativas em prol do livro e da leitura, com recursos totalmente vindos das contribuições voluntárias que editores, distribuidores e livreiros fizeram como contrapartida da desoneração do PIS e Cofins. Citaria a segunda edição da pesquisa Retratos da Leitura, hoje referência para o estabelecimento de políticas na área, o patrocínio do Fórum Biblioteca na Escola, do Fórum Mais Livro e Mais Leitura nos Estados e Municípios, de inúmeras iniciativas do PNLL, além da participação na Bienal do Livro de São Paulo e do Rio de Janeiro organizando e patrocinando os espaços Biblioteca Viva e Floresta de Livros.
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