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COLUNISTA
Rodrigo Ramazzini
11/12/2009 - 07h05
Serviço público de qualidade
 
 

O João tinha uma árvore. Era uma árvore alta, com uma copa bastante densa e certa época do ano até dava fruto. Aquela árvore era motivo de orgulho para João, afinal, ele a havia plantado desde criança. Sempre repetia o chavão, batendo na árvore – Se nesta vida temos que deixar um filho, plantar uma árvore e escrever um livro, tenho que começar a me dedicar à literatura, porque nos outros dois, modéstia parte, eu caprichei! Esse era o João e os seus orgulhos: as três filhas e uma árvore plantada na calçada em frente a sua casa.

O que era motivo de orgulho para João, nos últimos oito meses, tornou-se uma dor de cabeça. Ao assistir uma reportagem na TV sobre os danos que grandes árvores poderiam causar caso caíssem em eventuais temporais lhe causou espanto. Utilizando a razão, concluiu que, era a hora de podar a velha árvore. Apesar da beleza, ele não poderia colocar em risco a vida das pessoas e o patrimônio que tinha construído ao longo dos anos. Comentou a decisão para a esposa e saiu para obter informações sobre como deveria proceder para a realização do serviço.

Deixou a sua casa para dirigir-se até a prefeitura municipal, entretanto, no percurso que fazia caminhando e pensando quem deveria procurar na busca pela informação correta, encontrou com o secretário de obras do município, um velho amigo de infância. Após abraços e breves lembranças, João explicou-lhe o seu drama. Para a sua surpresa, foi prontamente atendido pelo secretário – Deixa pra mim! Semana que vem o meu pessoal estará lá para podar a árvore. Contente, João girou nos calcanhares e retornou para casa.

Passados duas semanas, o pessoal da prefeitura ainda não havia aparecido para realizar o serviço. Chegou a pensar em ir até a prefeitura cobrar o serviço, mas resolveu esperar mais um pouco, afinal, a demanda de trabalho de um órgão público é grande. Um mês após o primeiro encontro com o secretário, por acaso, João o reencontra em um aniversário e tem a promessa reforçada – Não me esqueci de ti! É que correria está grande... Semana que vem estamos lá!

Dois meses depois do aniversário, e ainda sem a árvore receber a poda, João resolve ir até a prefeitura cobrar uma explicação. Chegando lá, novamente encontra o secretário, que lhe esclarece que não realizou o serviço porque era necessário o velho amigo formalizar a solicitação do serviço. Dentro da prefeitura mesmo, João dirigi-se então ao local destinado a oficializar a sua solicitação de serviço. Após descrever para a atendente o que desejava ocorre uma surpresa. João é informado que deve pagar uma taxa de R$ 18,00 pelo serviço de poda, e, como a árvore é considerada de espécie nativa, ele é obrigado a remeter 40 mudas de árvores para a secretaria de Meio Ambiente. Dois dias depois a taxa já estava paga e o número de mudas entregue na secretaria informada. Agora, era só esperar.

A espera durou mais um mês e quinze dias. Foi o tempo que pacientemente João esperou até novamente deslocar-se a prefeitura para saber os motivos que estavam atrapalhando a realização do serviço. Depois de passar por três setores da prefeitura e falar com seis funcionários, João é informado que a poda da sua árvore está programada para o dia 15 do próximo mês. Ele deixa o local contente, afinal, agora já tem uma data, mesmo que tenha que esperar mais um mês e cinco dias para que a poda na árvore seja realmente efetuada.

Decorrido o prazo, eis que chega o grande dia. O sol brilha belíssimo no céu. João acorda cedo, pois mesmo com o sentimento de tristeza, quer acompanhar todos os passos do trabalho. Com o seu chimarrão em punho, ele senta-se à sombra da árvore (talvez a última vez que desfrutasse daquela sombra) para esperar os funcionários da prefeitura. A espera durou o dia inteiro. Ninguém apareceu. Com esperança, ainda comentou com a esposa antes de dormir – Quem sabe amanhã. Quem sabe amanhã!

Passados quarenta e cinco dias da data marcada para a realização do serviço de poda em sua árvore, João retorna a prefeitura municipal, e, após passar por quatro setores e pedir explicação a oito funcionários, ele descobre que está no meio de um grande debate: qual é a secretaria responsável pela realização do serviço de poda de árvores no município? A secretaria de Obras diz que esse serviço não é competência da pasta. Assim como a de Meio Ambiente. A secretaria de Serviços Urbanos argumenta que esse tipo de atividade era de responsabilidade da pasta de Meio Ambiente na gestão anterior. A Pasta de Meio Ambiente replica que a responsabilidade do serviço era realmente dela, porém era a secretaria de Obras que efetivamente realizava o serviço. Entretanto, a secretaria de Obras contesta a informação e diz que, mesmo de forma precária, quem fazia o serviço era a secretaria de Serviços Urbanos. Estava criado o impasse. Uma reunião de emergência para resolver o assunto foi convocada para dali a trinta dias.

Foi então que aconteceu. Entre esse período de espera da reunião. A meteorologia previu pela manhã e o pior ocorreu no final da tarde: um temporal castigou a cidade. Casas, escolas, estabelecimentos comerciais foram destruídos com a força dos ventos e a chuva. Além de muitos postes de energia elétrica e árvores que foram derrubados pela fúria da natureza. Na casa do João, por força divina, segundo ele, nada foi perdido. O único dano registrado foi na árvore em frente a sua casa. Com a força dos ventos, ela acabou inclinando-se um pouco em direção ao telhado da sua residência. Em virtude do risco que apresentava aquela situação, João tomou uma decisão: iria ele mesmo podar a árvore. Foi até a casa do cunhado e pegou-lhe emprestado a motosserra.

Com a ajuda de um vizinho, ele começou a preparação do serviço. Limpou os arredores da árvore, amarrou cordas para direcionar e sustentar a queda dos galhos etc. Todas as medidas de segurança para efetuar a atividade foram tomadas pelo João. Pronto, ele finalmente sobre na árvore para começar a poda. Lá do alto, ele avista um carro parado no final da sua rua. Estranhou o veículo estar parado naquele local, porém como não o reconheceu, seguiu o trabalho. Ligou a motosserra e quando finalizou o corte do primeiro galho, o tal carro moveu-se e parou em frente a sua casa. Já com um bloco em punho, dois homens desembarcaram e anunciaram – Fiscalização ambiental! O senhor está multado por corte irregular de árvore nativa!

Esta é uma obra fictícia e em nada condiz com a nossa realidade.


Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
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