25/11/2024  20h50
· Guia 2024     · O Guaruçá     · Cartões-postais     · Webmail     · Ubatuba            · · ·
O Guaruçá - Informação e Cultura
O GUARUÇÁ Índice d'O Guaruçá Colunistas SEÇÕES SERVIÇOS Biorritmo Busca n'O Guaruçá Expediente Home d'O Guaruçá
Acesso ao Sistema
Login
Senha

« Cadastro Gratuito »
SEÇÃO
Contos
02/07/2009 - 12h00
A caronista
Fábio Onéas
 

Não tenho um bom emprego e com certeza não é o emprego que eu quero para os meus dois filhos.

Sou motorista de uma funerária há dez anos. Já estou acostumado com a companhia dos mortos. Sou quase um taxista; mas tenho a vantagem de não ter que escutar papos inconvenientes de alguns passageiros, e muito menos ter que aturar mau humor dos mesmos.
Há alguns meses havia prometido a minha esposa que chegaria mais cedo em casa, quando fui surpreendido por um trabalho de última hora, tentei dialogar, mas não foi possível, não tinha mais nenhum motorista disponível.

Meio a contragosto liguei para a minha esposa e avisei que chegaria tarde. Ela depois de soltar vários impropérios pelo telefone desligou na minha cara antes que eu pudesse dizer qualquer coisa a mais.

O tempo não estava bom, uma tempestade se aproximava rapidamente, ventava e fazia muito frio, esperava estar em casa por volta das oito da noite.

Esperei colocarem o caixão no carro e segui meu caminho.

A estrada era deserta e mal iluminada, cortada por árvores de ambos os lados, parecia que eu era o único naquele maldito lugar.

Como eu temia, a tempestade me pegou no meio do caminho, o festival de relâmpagos que cortavam o céu ao menos serviu para iluminar meu caminho temporariamente.

Mais a frente, avistei uma moça agachada no encostamento da estrada, passei por ela, dei marcha ré e parei ao seu lado:
- Posso ajudar em algo?

Ela me fitou, mas nada respondeu.

Sem saber o que falar em seguida olhei para um árvore caída próxima a ela e fiquei esperando ela dizer alguma coisa.

Ela se levantou caminhou até a porta do carro, abriu e sentou no banco do carona.

- O que fazia naquela chuva moça? - Perguntei tentando ser simpático.
Não sei se ela não me ouviu, ou apenas fingiu não ouvir, sua atenção foi desviada para o caixão que eu transportava.

- Espero que você não ligue normalmente eles não incomodam ninguém! - Disse tentando arrancar um sorriso dela.

Novamente ela ignorou meu comentário.

Meio encabulado, fiquei calado apenas prestando atenção na estrada escura que estava a minha frente.

De soslaio eu via que freqüentemente sua atenção era desviada para o caixão.

“O que fazia uma bela moça como essa sozinha na estrada?” - Pensava comigo mesmo.

Ela levou a mão suavemente até o rosto e afastou o cabelo que teimava em roçar a sua face.

Ela tinha algo dentro da orelha, parecia ser algodão.

- Você está com dor de ouvido? - Perguntei.

Ela virou-se em minha direção e do seu nariz saia um chumaço de algodão, assustado perdi a direção do carro e por pouco não bati em uma árvore.

Ela agora estava enfiando a mão dentro de sua boca e puxando mais um chumaço de algodão. Eu não conseguia me mexer, estava aterrorizado.

Sem dizer uma palavra ela abandonou meu carro, e caminhou em direção ao caminho que já havíamos percorrido.

Refeito do susto segui minha viagem, assim que cheguei fiquei sabendo que o corpo que eu transportava era de uma jovem que morreu em um acidente de carro exatamente onde eu encontrei minha caronista. Ela perdeu o controle do carro e chocou-se de frente com uma árvore, morrendo no local.

Abri o caixão apenas para constatar o que eu já sabia; eu carregava o corpo da minha caronista.

PUBLICIDADE
ÚLTIMAS PUBLICAÇÕES SOBRE "CONTOS"Índice das publicações sobre "CONTOS"
20/12/2022 - 06h19 Aquelas palavras escritas
20/10/2022 - 06h07 Perfil
30/06/2022 - 06h40 Ai eu choro
13/06/2022 - 06h32 Páginas de ontem
31/05/2022 - 06h38 É o bicho!
24/05/2022 - 06h15 Tocaia
· FALE CONOSCO · ANUNCIE AQUI · TERMOS DE USO ·
Copyright © 1998-2024, UbaWeb. Direitos Reservados.