Diálogo entre a Dúvida e a Certeza. - Por que essa cara, hein? - Nada! Por quê? - Como nada? Está parecendo mais eu do que tu mesma... - Pára com isso, Dúvida! - Mas é verdade, Certeza! Esse seu aspecto de espanto não lhe é peculiar... - Não é nada, não! - Vamos! Desabafe... - Não é nada mesmo! - Não vem com essa para cima de mim! Eu te conheço... Somos parceiras há quantos anos, esqueceste? Vai fazer cena logo comigo! - Não é nada, não! - Como não é nada? Se você assumiu a minha aparência. Estamos idênticas! Olhe-se no espelho... Parecemos irmãs gêmeas! - Exagero de sua parte, Dúvida! - Não é não! Tu estás irreconhecível! Pálida... - É que... - Cadê aquele ar de decidida, forte, cheia de energia, hein? Que quando eu habitava a consciência da Clarinha chegou e disse a ela cheia de convicção: “se eu fosse você, terminava o casamento com o Rui!” E destilou argumentos... Cadê? - É que agora... - Tem o caso da Soninha, lembras? Ela não sabia o que fazer. Eu havia tomado-lhe completamente. Foi bonito de ver! Tu chegando e com um ar celestial proferiu cada sílaba como se fosse uma sentença final: “faça medicina, tem mais a ver com sua personalidade!” - Mas agora é diferente... - Diferente foi o caso da Célia, recordas? Eu e o medo nos juntamos. Que dupla infernal! Foi aqui que virei seu fã de vez. A mulher com um câncer em estágio avançado, todo mundo temendo por sua vida, menos quem, hein? Olha quem: Tu! Que com coragem entrou naquele cérebro e a fez acreditar que conseguiria vencer essa doença terrível. Meses depois do tratamento a mulher estava completamente curada! - É que desta vez... - Não adianta negar: tu és demais mesmo! Sou sua fã número um! - É que... - Então, depois de tudo isso, por que essa cara? O que foi agora? - Questões sem respostas! É isso... - O que estás me dizendo? - O que ouviste... - Está... Está em dúvida? - Isso mesmo! - Mas por quê? Meu Deus! - Todas as convicções perdem os sentidos... - Mas tu és a Certeza, ora bolas! - Quando os problemas e as respostas são para os outros sou mesmo! - Mas e agora? - Agora sou eu que preciso de uma resposta. Nestas horas, não há certeza que não se questione e vire dúvida...
Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
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