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COLUNISTA
Rodrigo Ramazzini
12/12/2008 - 07h00
“Onde se ganhar o pão, não se come a carne”
 
 

- Ufa! Até que enfim chegamos...
- Eu acho que precisamos conversar, Maria Isabel.
- Com certeza precisamos conversar, Pedro Paulo.
- Tu ficaste com a cara fechada a festa toda. Por quê? O que houve?
- Tu ainda perguntas por quê?
- Se eu soubesse, não perguntava.
- Como tu és cínico!
- Mas o que foi que eu fiz?
- O que foi que fizeste? Pedro Paulo! Tu tomas uns golinhos de cerveja e fica todo assanhadinho...
- Ah tá! Não posso ficar alegre na festa de confraternização da empresa, agora?
- Pode! Desde que se comporte...
- Tranqüilo, então! Porque eu me comportei muito bem.
- A dramaturgia está perdendo um talento mesmo!
- O que foi que eu fiz, criatura?
 - Vamos parar com essa palhaçada! Vou direto ao assunto: tu achas que eu não te vi falando no ouvidinho da coleguinha Giane, hein?
- Com aquele som alto, queria que eu fizesse o quê? Gritasse?
- Tu achas que eu sou boba, né?
- Ai meu Deus!
- Ai meu Deus nada! Podes começar a explicar.
- Explicar o quê? Ceninha de ciúmes a essa hora não, Isabel. Por favor! Eu quero dormir...
- Como tu podes ser tão cínico, Pedro Paulo. Era Giane pra cá, Giane pra lá. Tu achas que eu não percebi? Confessa! Vocês estão tendo um caso?
- Claro que não! Agora não posso mais conversar com uma colega de trabalho, hein?
- Conversar é uma coisa, dar em cima é outra.
- Eu não acredito que estás pensando isso.
- Pelo o que vi, não estou só pensando, estou acreditando mesmo... É muita intimidade entre vocês dois.
- Lógico! A gente trabalha junto o dia inteiro.
- Com direito a hora-extra pelo jeito...
- Meu Deus, Isabel! Nunca ouviste aquele ditado que “onde se ganha o pão, não se come a carne”...
- Palhaço! Ironia em uma hora dessas...
- Calma! Estava brincando.
- Confessa! Tu estás me traindo com aquela vagabunda?
- Não estou! Eu juro, meu amor...
- Podes confessar, eu já sei de tudo mesmo... A Marlene me contou durante a festa dos boatos que circulam na empresa...
- Eu sabia que tinha dedo da Marlene nesta história. Tu passaste a festa inteira com ela. Como não me toquei disso...
- A culpa vai ser da Marlene agora, quer ver...
- Claro, meu amor! A Marlene tem fama de fofoqueira na empresa, dessas que levam e trazem fofoca, dessas que gostam de fazer uma intriga, sabe?
- Não começa, Pedro Paulo! Não distorce a história... A Giane é ou não é tua amante?
- Não estou distorcendo. É sério! Além do mais, a Marlene e eu estamos disputando uma promoção na empresa. E nessas horas, meu amor, vale qualquer coisa...
- Por que eu estou com a sensação que estás me mentindo, hein, Pedro Paulo?
- O que foi que a Marlene te contou? Diz que eu confirmo ou não.
- Eu duvido tu confirmares...
- Fala então!
- Ela falou que corre pelos corredores da empresa que tu e a Giane são realmente amantes, que passam horas sozinhos trancados no escritório, e que esses dias saíram cedo da tarde e voltaram somente no final do expediente, inclusive ela de cabelo molhado...
- Eu estou pasmo!
- Pasma fiquei eu! E tem mais...
- Tem mais?
- Que esses dias uma das faxineiras encontrou uma calcinha rasgada dentro da lixeira.
- Aí não! Aí passou dos limites. Tu me conheces bem, então me diz: tu achas que, se realmente eu fizesse alguma coisa no meu escritório, eu iria cometer a burrice de deixar uma calcinha dentro do lixo?
- Pois é... Eu achei meio absurda a história mesmo, mas...
- Então, meu amor! É pura inveja daquela fofoqueira. Inveja do nosso amor! Inveja da minha competência profissional! Vêm cá me dar um abraço e um beijo! Vem cá...
- Está bem! Vou acreditar em ti desta vez. A Marlene nunca me pareceu muito confiável mesmo. Mas estou de olho em ti, hein!
- Pode ficar tranqüila, meu amor! Eu te amo! Só tenho olhos pra ti... Que abraço gostoso!

Dia seguinte no escritório, no “cantinho do café”.

- Pô, Marlene!
- Fala baixo.
- A história da calcinha foi braba de engolir, hein?
- Foi o que me veio na cabeça na hora, Pedro Paulo. Queria que eu fizesse o quê?
- Mas está ótimo! Foi o que me salvou...
- Deu certo, então?
- Arãn! A Isabel ficou com a pulga atrás da orelha! Está achando que eu e a Giane temos um caso...
- Que bom!
- Hoje, depois do expediente?
- Arãn!
- Vamos ao mesmo motel da semana passada?
- Pode ser...


Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
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