- Ufa! Até que enfim chegamos... - Eu acho que precisamos conversar, Maria Isabel. - Com certeza precisamos conversar, Pedro Paulo. - Tu ficaste com a cara fechada a festa toda. Por quê? O que houve? - Tu ainda perguntas por quê? - Se eu soubesse, não perguntava. - Como tu és cínico! - Mas o que foi que eu fiz? - O que foi que fizeste? Pedro Paulo! Tu tomas uns golinhos de cerveja e fica todo assanhadinho... - Ah tá! Não posso ficar alegre na festa de confraternização da empresa, agora? - Pode! Desde que se comporte... - Tranqüilo, então! Porque eu me comportei muito bem. - A dramaturgia está perdendo um talento mesmo! - O que foi que eu fiz, criatura? - Vamos parar com essa palhaçada! Vou direto ao assunto: tu achas que eu não te vi falando no ouvidinho da coleguinha Giane, hein? - Com aquele som alto, queria que eu fizesse o quê? Gritasse? - Tu achas que eu sou boba, né? - Ai meu Deus! - Ai meu Deus nada! Podes começar a explicar. - Explicar o quê? Ceninha de ciúmes a essa hora não, Isabel. Por favor! Eu quero dormir... - Como tu podes ser tão cínico, Pedro Paulo. Era Giane pra cá, Giane pra lá. Tu achas que eu não percebi? Confessa! Vocês estão tendo um caso? - Claro que não! Agora não posso mais conversar com uma colega de trabalho, hein? - Conversar é uma coisa, dar em cima é outra. - Eu não acredito que estás pensando isso. - Pelo o que vi, não estou só pensando, estou acreditando mesmo... É muita intimidade entre vocês dois. - Lógico! A gente trabalha junto o dia inteiro. - Com direito a hora-extra pelo jeito... - Meu Deus, Isabel! Nunca ouviste aquele ditado que “onde se ganha o pão, não se come a carne”... - Palhaço! Ironia em uma hora dessas... - Calma! Estava brincando. - Confessa! Tu estás me traindo com aquela vagabunda? - Não estou! Eu juro, meu amor... - Podes confessar, eu já sei de tudo mesmo... A Marlene me contou durante a festa dos boatos que circulam na empresa... - Eu sabia que tinha dedo da Marlene nesta história. Tu passaste a festa inteira com ela. Como não me toquei disso... - A culpa vai ser da Marlene agora, quer ver... - Claro, meu amor! A Marlene tem fama de fofoqueira na empresa, dessas que levam e trazem fofoca, dessas que gostam de fazer uma intriga, sabe? - Não começa, Pedro Paulo! Não distorce a história... A Giane é ou não é tua amante? - Não estou distorcendo. É sério! Além do mais, a Marlene e eu estamos disputando uma promoção na empresa. E nessas horas, meu amor, vale qualquer coisa... - Por que eu estou com a sensação que estás me mentindo, hein, Pedro Paulo? - O que foi que a Marlene te contou? Diz que eu confirmo ou não. - Eu duvido tu confirmares... - Fala então! - Ela falou que corre pelos corredores da empresa que tu e a Giane são realmente amantes, que passam horas sozinhos trancados no escritório, e que esses dias saíram cedo da tarde e voltaram somente no final do expediente, inclusive ela de cabelo molhado... - Eu estou pasmo! - Pasma fiquei eu! E tem mais... - Tem mais? - Que esses dias uma das faxineiras encontrou uma calcinha rasgada dentro da lixeira. - Aí não! Aí passou dos limites. Tu me conheces bem, então me diz: tu achas que, se realmente eu fizesse alguma coisa no meu escritório, eu iria cometer a burrice de deixar uma calcinha dentro do lixo? - Pois é... Eu achei meio absurda a história mesmo, mas... - Então, meu amor! É pura inveja daquela fofoqueira. Inveja do nosso amor! Inveja da minha competência profissional! Vêm cá me dar um abraço e um beijo! Vem cá... - Está bem! Vou acreditar em ti desta vez. A Marlene nunca me pareceu muito confiável mesmo. Mas estou de olho em ti, hein! - Pode ficar tranqüila, meu amor! Eu te amo! Só tenho olhos pra ti... Que abraço gostoso! Dia seguinte no escritório, no “cantinho do café”. - Pô, Marlene! - Fala baixo. - A história da calcinha foi braba de engolir, hein? - Foi o que me veio na cabeça na hora, Pedro Paulo. Queria que eu fizesse o quê? - Mas está ótimo! Foi o que me salvou... - Deu certo, então? - Arãn! A Isabel ficou com a pulga atrás da orelha! Está achando que eu e a Giane temos um caso... - Que bom! - Hoje, depois do expediente? - Arãn! - Vamos ao mesmo motel da semana passada? - Pode ser...
Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
|