- Cheguei amor! Fui entrando, a porta estava aberta de novo. Eu já te avisei sobre essa porta, hein? A hora que te assaltarem... E aí, tudo bem? Mário Antônio, deitado no sofá, fez apenas um sinal de positivo com o polegar direito. Larissa, sua namorada, segue falando, enquanto começa a abrir uma sacola com roupas. - Resolvi antecipar a minha vinda pra cá. Sei que hoje é quarta-feira, mas eu prometo não atrapalhar. É que me bateu uma saudade do meu amorzinho. Nossa! Não me agüentava mais de saudade... Ah! E além do mais, pra quem viria na sexta-feira mesmo, antecipar dois dias não é nada. Gostaste da surpresa? - Arãn. - A minha mãe não gostou muito da idéia de eu vir hoje. - É. - É! Falou que daqui uns dias eu vou acabar vindo de vez. Mas eu respondi que não, que tu estavas curtindo morar sozinho por enquanto, mas que gostava da minha companhia, coisa e tal... Aquelas coisas que qualquer mãe implica. Tu sabes como é! - Arãn! - Mário Antônio! Tu estás me ouvindo? - Estou Larissa! Estou... - Não dá para tirar esses fones de ouvido enquanto falo contigo? Mário Antônio tira os fones de ouvido e senta-se no sofá. - Fala... - Ah! Agora que eu vi. Vai começar o jogo na televisão, né? É o teu time que vai jogar? - É... - Já vi que não vou ganhar atenção de novo. - Não começa Larissa! - Não começa o quê? É sempre assim em dia de jogo... Tu colocas esses fones de ouvido e fica como uma estátua na frente da TV. - Meu Deus! - Meu Deus, digo eu... É sempre a mesma coisa! Fico sem ter com quem conversar, sem atenção, sem carinho... Enquanto tu assistes um bando de homem correndo atrás de uma bola... - Larissa! São apenas noventa minutos. Depois eu te dou atenção... Tu sabes muito bem que eu gosto de futebol, e que quarta e domingo são dias de jogos, então... - Tu gostas mais desse teu time do que de mim... - Pára! Sem ceninha de “eu sou carente, ninguém ama”... - Mas é... Sempre que eu quero a tua atenção, nunca ganho. - E essa tua carência de atenção precisa ser justamente no horário do jogo? - Agora vou ter que programar a minha carência? Hoje pode. Hoje não pode a partir das 22h... - Quando tu queres complicar, sai da frente... - Eu não complico nada. Tu que faz as coisas ficarem complicadas. - Sou eu sim! Deixa-me assistir ao jogo agora. Já vai começar... Emburrada. Larissa pega o telefone e a bolsa e grita. - Vou sair! 90 minutos depois... - Larissa! Larissa! Meu amor... Ela entra na porta. - Oi meu amor! Pronto. Agora sou todo seu. Por onde andaste? Larissa arruma o cabelo molhado e com um sorriso sarcástico responde. - Por aí...
Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
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