- Bah! Essa pescaria veio na hora certa. Estava precisando dar uma espairecida. A mulher só me torrando a paciência em casa. Não agüentava mais... - Capaz! Mas por quê? - Não te contei? - Não! - Vou te contar a história então. Foi sábado passado. Eu estava sozinho em casa. A Cleuza tinha ido a um instituto de beleza. Olhava um jogo na Sky, Real Madrid contra... contra... Não lembro o adversário. Enfim, um jogão! Foi quando escutei um barulho de algo cair ao chão e se despedaçar... - Ué! O que era? - Calma! Vou chegar lá. Aí eu escutei o tal barulho e corri na cozinha. Chegando lá, encontrei no chão, em caquinhos, um vaso da Cleuza. Ou ex-vaso, né? Herança de família, mas nada de valor. Sabe dessas coisas que mulher se agarra sem explicação? - Sei! - Pois é! Era a Cleuza e o tal vaso... - Mas quebrou muito? Não dava para colar? - Mas que jeito! O troço se despedaçou de uma maneira, mas de uma maneira, que eu iria passar um ano e não ia conseguir juntar as partes... - Capaz? - Arãn! - Tá! Mas como ele caiu? - Rapaz! Não é que foi a praga do cachorro. Um passarinho entrou na cozinha por uma janela que estava aberta e não conseguia sair. O cachorro enlouqueceu tentando pegar o bicho. Pulou pra cá, pulou pra lá e bateu na mesa de jantar, onde estava o tal do vaso, aí se deu o estrago... - Aquele teu cachorro branco? - Arãn! - Tá! Só não entendi uma coisa ainda: por que a tua mulher está braba contigo se foi o cachorro? - Calma! Vou chegar lá... - Continua então! - Bom! Como eu não tinha mais nada a fazer, apenas limpei os “restos mortais” do vaso do chão e esperei a Cleuza chegar... - Que ficou uma fera? - Mais que isso! Mais do que isso! - E aí? - Aí ela chegou, conversou um pouco, coisa e tal e foi na cozinha. Só ouvi um grito! E veio bufando de lá... - E aí? - Bah! Me encheu de perguntas: “como tinha quebrado?” “Quem tinha quebrado?” E coisa e tal... - E tu? - Eu assumi o estrago! Disse que tinha batido na mesa, tentando tirar o tal passarinho... Contei uma estória. - Ué! Mas tu estás ficando louco, homem? Por que tu fizeste isto? Por que assumiste a culpa? - Pois é, meu amigo... Talvez movido pelo remorso! Ou melhor... Eu penso que fiz uma retribuição a um amigo! Essa é a definição certa. O que é um vasinho? Outro dia mesmo, eu rasguei uma almofada da Cleuza com as unhas dos pés... e... e o cachorro assumiu a culpa...
Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
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