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COLUNISTA
Rodrigo Ramazzini
21/11/2008 - 07h09
A culpa
 
 

- Bah! Essa pescaria veio na hora certa. Estava precisando dar uma espairecida. A mulher só me torrando a paciência em casa. Não agüentava mais...
- Capaz! Mas por quê?
- Não te contei?
- Não!
- Vou te contar a história então. Foi sábado passado. Eu estava sozinho em casa. A Cleuza tinha ido a um instituto de beleza. Olhava um jogo na Sky, Real Madrid contra... contra... Não lembro o adversário. Enfim, um jogão! Foi quando escutei um barulho de algo cair ao chão e se despedaçar...
- Ué! O que era?
- Calma! Vou chegar lá. Aí eu escutei o tal barulho e corri na cozinha. Chegando lá, encontrei no chão, em caquinhos, um vaso da Cleuza. Ou ex-vaso, né? Herança de família, mas nada de valor. Sabe dessas coisas que mulher se agarra sem explicação?
- Sei!
- Pois é! Era a Cleuza e o tal vaso...
- Mas quebrou muito? Não dava para colar?
- Mas que jeito! O troço se despedaçou de uma maneira, mas de uma maneira, que eu iria passar um ano e não ia conseguir juntar as partes...
- Capaz?
- Arãn!
- Tá! Mas como ele caiu?
- Rapaz! Não é que foi a praga do cachorro. Um passarinho entrou na cozinha por uma janela que estava aberta e não conseguia sair. O cachorro enlouqueceu tentando pegar o bicho. Pulou pra cá, pulou pra lá e bateu na mesa de jantar, onde estava o tal do vaso, aí se deu o estrago...
- Aquele teu cachorro branco?
- Arãn!
- Tá! Só não entendi uma coisa ainda: por que a tua mulher está braba contigo se foi o cachorro?
- Calma! Vou chegar lá...
- Continua então!
- Bom! Como eu não tinha mais nada a fazer, apenas limpei os “restos mortais” do vaso do chão e esperei a Cleuza chegar...
- Que ficou uma fera?
- Mais que isso! Mais do que isso!
- E aí?
- Aí ela chegou, conversou um pouco, coisa e tal e foi na cozinha. Só ouvi um grito! E veio bufando de lá...
- E aí?
- Bah! Me encheu de perguntas: “como tinha quebrado?” “Quem tinha quebrado?” E coisa e tal...
- E tu?
- Eu assumi o estrago! Disse que tinha batido na mesa, tentando tirar o tal passarinho... Contei uma estória.
- Ué! Mas tu estás ficando louco, homem? Por que tu fizeste isto? Por que assumiste a culpa?
- Pois é, meu amigo... Talvez movido pelo remorso! Ou melhor... Eu penso que fiz uma retribuição a um amigo! Essa é a definição certa. O que é um vasinho? Outro dia mesmo, eu rasguei uma almofada da Cleuza com as unhas dos pés... e... e o cachorro assumiu a culpa...


Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
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