- Eu quero terminar! Não quero mais... - Como assim? - Como assim, Bruno Otávio? Acabou! - Por quê? - Nosso namoro caiu em uma rotina. Não agüento mais! - É? - É sim! E a culpa é tua. - O que foi que eu fiz? - O problema não é o que fazes, e sim, o que não fazes... É sempre tudo igual! - Como assim? - Ah! Sei lá, Bruno Otávio! Tua roupa mesmo: sempre de camisa preta bem passada. Tudo certinho! - Eu gosto de preto... Tu também gostavas. - Gostava! Falaste bem. Agora, me irrita. - Mas é que eu achava... - Achava nada. Os teus assuntos também... Sempre os mesmos, sempre girando em torno das mesmas coisas. Estou de saco cheio! - Mas nós nem conversamos muito. - Este é o problema. Quando conversarmos é sempre a mesma coisa. Sempre politicamente correto. Nem me contar uma piada com final indecente, para variar, tu fazes... - Eu posso comprar um livro do Ari Toledo, se esse é o problema... - Não é só isso! - Tem mais? - Tem! Os lugares que tu me levas... Eu quero às vezes pular de bunge jump, fazer um rapel, andar de kart, fazer uma trilha... Sei lá! Algo diferente. E não ficar com a bunda quadrada por causa das cadeiras dos restaurantes... - Eu pensava... - Nem tomar um porre nestes lugares tu tomas! - Eu posso começar a beber, se quiseres... - Nem para protagonizar uma história tu serves... Quando que eu tive que te carregar de um lugar destes? Nunca! - Eu... - Tu nada! Nada mesmo. Nem o jeito que me beijas tu mudas. É sempre do mesmo jeito! Desde que nos conhecemos é com a cabeça virada para o lado direito e só! - Eu posso tentar trocar... - Devia ter tentado trocar antes. - Mas Lúcia... - E o sexo então? Não vou nem comentar... - O que tem o sexo? - Ai Bruno Otávio... Na hora do sexo, eu quero ser pega com força, jogada de um lado para outro... Transar na garagem, no banheiro, na sala... Aí! - Ah! - Cansei de transar na cama e na mesma posição. - Se era esse... - Se era esse o quê? - Se era esse o problema... Se era assim que queria... Era só ter pedido! Ora... - Ai, ai... Meu Deus! Ele não entende mesmo... Sabe o qual é o teu problema, Bruno Otávio? - Ah qual? - Não sabes? - Não, né! - Então eu vou te falar: tu és muito certinho! É isso... Esse é o problema! - Mas tu preferes o que: um certinho que te ame ou um desorientado sem-vergonha? - Eu prefiro um desorientado que me ame. - Então! Eu te amo e não sou tão certinho que nem tu imaginas. - Ah, não é? Então prova! - Se eu provar, tu prometes que não termina o namoro? - Prometo! Bruno Otávio pega o telefone. - Para quem estás ligando? - Para a Sandra. - Que Sandra? - A sua amiga Sandra... - O quê? Para a minha amiga Sandra? - É... Espera... Alô Sandrinha! É o Bruninho, tudo bem? Vamos sair hoje de novo? Eu sei que pode! Naquele mesmo motel? Combinado. Às 22 horas. Beijão...
Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
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