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COLUNISTA
Rodrigo Ramazzini
10/10/2008 - 16h04
A prova de amor
 
 

- Desculpa, amor! Por favor?
- Não.
- Por favor: aceita essas rosas pelos menos. Elas são o símbolo do meu amor...
- Sei.
- Estou arrependido pelo que fiz...
- Que não tivesse feito, então.
- Aceita, por favor?
- Tentando me comprar, Luiz Henrique?
- Não! Pô... Tu também complicas quando quer complicar... O que fiz nem foi tão grave assim...
- Nãããããoo! Tu não achas grave, Luiz Henrique? Eu fico imaginando: se tu olhaste para aquela vagabunda estando comigo... O que não fazes quando estás sozinho, hein?
- Ai ai ai, Vitória! Eu te disse: eu só olhei porque me chamou atenção uma mulher estar de mini-saia em um dia friozinho...
- Tu achas que sou eu boba? Então, foi o friozinho e depois as coxinhas dela, a bunda... Faça-me o favor!
- Meu Deus! O que eu posso fazer para provar o meu amor? Que gosto realmente de ti? Para ser perdoado?
- Não sei. Não sei se tem perdão...
- Mulher quando quer complicar, vou te contar uma coisa...
- O que disseste?
- Nada não... Me diz: o que tenho que fazer para provar que é de ti que eu gosto?
- E será que gostas mesmo? Será que existe amor da tua parte?
- Já sei! Uma serenata! Eu canto pra ti:

Às vezes, no silêncio da noite
Eu fico imaginando nós dois
Eu fico ali sonhando acordado, juntando
O antes, o agora e o depois
Por que você me deixa tão solto?
Por que você não cola em mim?
Tô me sentindo muito sozinho!

- Chega Luiz Henrique! Quantas vezes vou precisar dizer que essa música me deprime?
- Ai ai ai, Vitória! Um poema, então? O Amor, do Fernando Pessoa. Lindo! Começa assim:

O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar pra ela,
Mas não lhe sabe falar.
Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer...

- Luiz Henrique, chega! A tua memória é fraca mesmo, hein? Ou tu não prestas atenção nas coisas que digo. Semana passada mesmo eu te falei que não gosto de poesia...
- Pô Vitória! Que droga mesmo! Nada serve. Não sei mais o que fazer para demonstrar que EU TE AMO!
- Sigh! ai-ai!
- O que foi? Por que esse suspiro?
- Repete, por favor?
- Repete o quê?
- A última parte “o eu te amo”.
- Vitória: eu te amo! Isso?
- Ai ai... Eu te amo! Eu te amo... Que lindo! Como é bom escutar isso. Ai amor... Fazia tempo que tu não demonstravas que me amava deste jeito...
- É?
- Ãran!
- Está bem então...
- Está perdoado, meu amor! Vem cá me dar um beijinho, vem...


Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
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