Finalmente naquela sexta-feira, os três irmãos, Toninho, José Arthur e o Marlon, conseguiram “arrastar” o João Paulo para a mesa de um bar. O jovem João Paulo era um cara que despertava muitas curiosidades na turma. Tímido, andava sempre quieto, de cabeça baixa, mal falava com os colegas durante a jornada de trabalho. Trabalhavam juntos há três anos, mas ninguém sabia nada sobre a sua vida. Vivia no seu “mundinho”, como diziam. O que gerava uma série de histórias ao seu respeito. Aparentemente, não tinha vida social, não praticava esportes e era solteiro. Bom! Exatamente neste ponto que a curiosidade do pessoal se aguçava. Depois de muitas cervejas e as conversas rodarem sobre o trabalho, o chefe e os times de futebol do coração, o assunto mulher entrou em pauta. Aqui começava a ser executado o plano elaborado pela turma para sanar as suas dúvidas, digamos assim. Iniciando pelo José Arthur, para criar o ambiente: - Aproxima! Aproxima! Vou fazer uma confissão pra vocês... - Fala, Arthur. - Sabe aquela negrinha da feira quase em frente ao Museu Municipal? - A que vende tomate? - Não! A outra... Tô pegando! - Capaz! - Sério! Fui fazer compras lá esses dias, ela se riu toda para o meu lado, não resisti. Fomos para o motel no início da semana. Que potranca! - Só não deixa a patroa descobrir! Se não... - Vira essa boca pra lá! Vou até bater na madeira. Toc toc toc... - Eu que quase entrei em uma fria essa semana. Sabem aquele meu “bichinho” da Petshop, que eu traço há tempos? - Claro! - Arãn! - Pegou e me ligou toda dengosa, querendo me ver... E eu com a Neide, que tem um ouvido que vou contar pra vocês. Estou dando explicação até agora... - Vai com calma, Toninho! Ela se amansa... Não é a primeira vez! Ah! Ah! Ah! - Eu que ando tranqüilo! Continuo com a “nega véia” e mais duas... Ah! Ah! Ah! - Você é demais, Marlon! Um brinde! Ah! Ah! Ah! Após as gargalhadas, silêncio. Então, Toninho parte para a fase final do plano, e questiona: - E contigo, João Paulo, como andam as namoradas? Novo silêncio. Pela primeira vez João vai “abrir a boca” para falar sobre si e, de quebra, já sentindo os efeitos da cerveja, confessa: - Eu... Eu “pego” a caixa do banco que fica em frente à empresa! A Elisân... Pronto! Antes que o João terminasse a frase, a gritaria tomou conta da mesa. Principalmente o Marlon. O “ganhador”. - Eu falei! Eu falei pra vocês que ele não era veado! Pode passar a grana... Cenzinho de cada um. Aposta é aposta e tem que pagar. - Está certo Marlon, ganhou... Apostou bem. Toma! Toninho baixou a cabeça e quieto, balançava-a de um lado ao outro negativamente. José Arthur ainda tentou justificar-se com João Paulo. - João, não que eu desconfiasse de alguma coisa, mas... Então, João Paulo, com a voz firme, exige: - Me dêem o dinheiro das apostas... Se não eu conto tudo! - Por que motivo? Ainda questionou o Marlon. Antes que João respondesse, Toninho interferiu: - Vamos dar o dinheiro a ele. Foi um erro de nossa parte fazermos isso com o garoto... Marlon ainda insistiu: - Ficou louco, Toninho! O dinheiro é meu. Eu ganhei a aposta... E perdendo a paciência, Toninho replicou: - Seu desgraçado! Não percebeu ainda que ele pode nos entregar? A Elisângela do banco é a irmã que vocês chamam de “solteirona” da Neide, minha mulher!
Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
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