Era uma quarta-feira. Estava em meu horário de almoço. Havia passado em uma loja de conveniências e comprados alguns chicletes. Depois do almoço sempre é bom mascar chicletes. Descascava um ao lado de uma lixeira pública. Sabe como é, consciência ambiental, embalagem no lixo, coisa e tal. “Lutava” contra a grudada embalagem do chiclete quando avistei, do outro lado da rua, vindo em sentido contrário, uma linda morena de cabelos lisos esvoaçantes. Cabelos iguais a dessas modelos de propaganda de xampu. Caminhava com um charmoso bailar dos quadris, e a leve brisa que soprava naquele dia, associada aos belos raios de sol, fazia com que os cabelos irradiassem um brilho especial, movimentando-se de um lado a outro dos ombros. Como se não bastasse tudo isso, a bela morena chamava a atenção, também, por estar toda de preto. Bota, calça coladinha, e uma blusa que contornava os fartos seios e a fina cintura. Um visual “mulher fatal”. Fiquei a admirar a morena que “desfilava” em frente aos meus olhos, enquanto descascava o chiclete, pensando de forma “politicamente correta”, como era bela aquela mulher. Foi então que ouvi, saindo de uma construção próxima, de um dentre os vários trabalhadores da obra, o grito que materializava os meus pensamentos: - Oh gostosa! Gostosa! Peraí morena!... Aonde vai com tanta presa? A morena (como todas as mulheres nesta situação) encheu-se de orgulho e auto-estima. Vi em seu rosto o leve sorrisinho de satisfação. Passou a mão no cabelo e seguiu de peito estufado e bunda empinada, caprichando no bailar dos quadris. Como um mero espectador da vida cotidiana, assisti a mais essa cena, pensei “tem razão o cara!” e já estava de saída, pois finalmente conseguira abrir o chiclete e colocar a embalagem no lixo, quando o destino aprontou. Sob o olhar atento da turma de trabalhadores, a morena caminhou por alguns metros com a sua bota de fino salto, e por descuido, na calçada defeituosa, colocou o salto em um buraco e torceu o pé esquerdo. Mesmo com toda a “habilidade e swing”, a morena não conseguiu evitar a queda. Caiu em “câmera lenta”, como se diz, batendo com um dos joelhos no chão. Um silêncio pairou no ar. Meu, dos trabalhadores da construção, e do restante da rua que viu o tombo. Teria a morena se machucado? A resposta veio com o seu rápido levantar. E antes que ela recomeçasse a caminhar, da mesma construção anterior, não perdoando nem mesmo a bela morena de cabelos de propaganda de xampu, veio o grito, sepultando a pior sentença possível nesta situação: - Oooh boca-aberta!
Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
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