No túnel de acesso ao gramado do estádio, o Uésklei, centroavante reserva, reuniu os companheiros de equipe em um círculo e proferiu as últimas palavras de incentivo antes do início da partida de futebol: - Vamú lá! Eu confio em vocês. Essa vitória é nossa! Era a oitava rodada do campeonato. O centroavante Uésklei amargava mais uma vez a reserva. O titular, chamado Thomas, só ostentava tal condição por ser um “alemão” de quase dois metros de altura (o técnico achava isso excepcional) e porque viera da Europa, com status de “estrela”, mas que até agora não fizera o esperado de um centroavante: gols. Uésklei apesar dos poucos minutos que jogava por partida, já possuía quatro. Sentou-se no banco de reservas e proferiu, em um “pensar alto”: - Tomara que esse alemão se machuque hoje. O lateral reserva Marcinho ouviu apenas uma parte, e questionou: - Quem se machuque? - Uésklei redargüiu, fingindo não entender. - O que você falou? Oh! Vai começar... O jogo inicia. Com cinco minutos de partida, Thomas perde um gol de cabeça de frente para o goleiro adversário. O centroavante Uésklei levantando-se do banco, juntamente com os demais companheiros de reserva, faz gesto de “desespero”, não acreditando na oportunidade desperdiçada. Quando retorna ao assento, não tarda em pensar: “É hoje que vou arrebentar e virar titular!”. A partida continua. Os minutos passam e Thomas continua a perder oportunidades “em cima” de oportunidades de fazer a alegria da sua torcida. Certa vaia vindo da geral do estádio já é ouvido quando ele pega na bola. No banco de reservas, a cada gol perdido pelo “Alemão”, Uésklei faz gestos e cenas como se “sentisse” o gol perdido, mas a bem da verdade, no “fundinho” comemora, pois sabe que a oportunidade almejada está sendo facilitada com tantos erros. Quando o Thomas errou um pênalti então, ele não tem mais dúvidas. Entraria no segundo tempo. A primeira etapa termina. Uésklei desce para o vestiário já tirando o agasalho e acelerando o aquecimento, convicto que entraria no jogo. O técnico chega “cuspindo marimbondo”. Reclama da atuação da equipe, desde a parte tática até o emocional. Xinga veemente todos, do goleiro ao camisa 11, exceto o “Alemão”, no qual passa-lhe a mão na cabeça e diz: - Ótimo jogo até aqui! Uésklei, presenciando tal atitude, indigna-se. Nem ficou os quinze minutos de direito no vestiário. Subiu as escadarias e sozinho, ficou à beira do gramado fazendo algumas embaixadinhas e falando sozinho, até o restante do time retornar para a segunda etapa. Na volta do intervalo, encontrando Uésklei em tal situação, o técnico o questiona se há alguma coisa errada. Ele redargüiu negando: - Não! Não! Tudo certo. Acho que vamos ganhar essa partida! - Respondeu e voltou a sentar-se no banco de reservas. Reinicia o jogo. E os trinta e oito minutos seguintes são de dar sono a todos os expectadores da partida. Nem um chute a gol é dado por ambas as equipes. Neste instante da partida, Uésklei encontra-se aquecendo juntamente com os demais companheiros de banco de reservas atrás da goleira adversária. Foi então que, aos quarenta e um minutos do segundo tempo, em um lançamento preciso vindo do meio de campo, “Alemão” recebe a bola sozinho dentro da grande área, ficando frente a frente com o goleiro adversário, e não perdoa. Gol! Os reservas saem correndo para comemorarem com “Alemão”, exceto Uésklei, que se ajoelha desesperado. Não acredita no que vê. Então, em um olhar perdido para o gramado, ele enxerga o árbitro assistente, que corre pela lateral direita, e o vê com a bandeirinha levantada. “Alemão” estava impedido. O gol deveria ser anulado. Vendo tal situação, Uésklei não titubeia, e emergindo toda a raiva interior por amargar a reserva, e esquecendo todo o espírito de equipe que um time deve possuir, ele levanta-se, e saí gritando e apontando em direção ao bandeirinha: - Tava impedido! Tava impedido! O contrato de Uésklei foi rescindo no outro dia pela manhã.
Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
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