Dia de jogo. Dia de reunir a turma para assisti-lo na casa do Betão. Tal reunião já havia virado superstição, pois na primeira vez que fizeram isso o time ganhou por 3 a 0 e, deste então, não deixaram mais de fazer pelo “bem da equipe”, inclusive com todos sentando nas mesmas posições para não quebrar a “corrente positiva”. - Joga o Fernandinho no meio-de-campo. - Putz! Já não gostei. Esse nosso técnico é burro mesmo! Por que não começar a partida com o Conceição? - O Fernandinho é mais marcador. Fecha o meio... - Sei lá! Eu colocava o Conceição na lateral e puxava o Marquinhos para o meio. - Pois é... Era quarta-feira. O time jogava pelas quartas-de-finais do campeonato. O empate já servia. Estava quase tudo pronto para iniciar a partida. Os comentários pré-jogo feitos, os copos de cerveja cheios, a pipoca preparada, as equipes em campo, a bola no meio do gramado, mas faltava uma coisa. - Alô! Edu? Pelo amor de Deus, homem! Onde tá? Ufa! Ele está quase chegando. Faltava um integrante da turma de torcedores. O Edu chegou na casa do Betão no momento que o juiz fez soar o apito. A bola rola. O Mauricinho ainda xingava o Edu pelo atraso, quando aconteceu o primeiro ataque da equipe, um chute de fora da área. - Uuhhhh! - Essa passou perto! - Começamos bem! - Tô sentindo que esse jogo é nosso! A equipe começa bem a partida, o que deixa eufórica a turma. Entusiasmo que durou apenas 8 minutos. A bola foi alçada para a grande área em uma cobrança de falta próxima à bandeirinha de escanteio da direita. O goleiro foi afastá-la para fora da área com um soco, mas pegou na “orelha” da bola, caindo ela mansamente nos pés do artilheiro da equipe adversária, que não perdoou. Um a zero. - Eu não acredito! - Que goleiro burro! Por que ele não pegou essa bola firme? - Fazia tempo que ele não tomava um frango. - Ainda bem que está no começo do jogo, dá para virar! O jogo recomeça. E os trinta minutos seguintes são de extrema agonia para a turma. O time joga muito mal, sofrendo uma enorme pressão do adversário. Pressão essa que não demora a transforma-se em gol. A jogada originária deste gol começou com uma cobrança errada de lateral feita pelo ala da equipe e que foi “revertida” pela arbitragem. Dois a zero. Fim do primeiro tempo. - Esse Amaral é muito ruim! Nem um lateral sabe cobrar. - É muito ruim mesmo! Tem alguém no banheiro? - Graças a Deus terminou o primeiro tempo. Mauricinho pode juntar essas pipocas do chão! - Que droga! Além de ver o meu time perder virei faxineira! Os comentários sobre o primeiro tempo alongam-se durante os 17 minutos de intervalo. Todas as possibilidades, erros e culpados são discutidos. Quando o Chumbinho, que além de assistir a partida pela TV, ouvia-a pelo rádio, informou os demais sobre a substituição que estava sendo feita na equipe, a turma entrou em desespero. - Eu não acredito! Ele vai colocar esse “perna de pau”! - Esse técnico é muito burro mesmo! - Já estou até querendo que o time perca mesmo. Assim pode ser que demitam esse burro! - Pior é que não cai. Coloca mais uma cerveja pra mim, Edu. Inicia a segunda etapa. A euforia de torcedor volta logo nos primeiros minutos, quando o jogador que acabara de entrar no time, ingressa diagonalmente na grande área do adversário e é derrubado. Pênalti! Convertido com precisão. Dois a um. - Feito! - Que bola! - Pelo menos esse David fez alguma coisa de útil! - Vamos para a virada! O gol faz ressurgir a esperança na turma. O entusiasmo volta, vibram como se estivessem no estádio, ainda mais que, nos dois ataques seguintes, o time quase empata. Mas a euforia dura pouco. O time parece sofrer um “apagão” repentino, e em um espaço de quinze minutos, toma dois gols. Quatro a um. Um abatimento toma conta do ambiente. Inconformados, a turma reclama de cada lance errado, e discute, no decorrer do tempo, além da demissão do técnico, a uma possível lista de dispensa de jogadores. O jogo está próximo do fim. O placar parece que não se alterará mais, foi então que o Chumbinho, que não estava participando da discussão, vendo o quarto árbitro erguer a placa de quatro minutos de acréscimo no tempo total de partida, levanta-se, faz um cálculo nos dedos da mão, e buscando uma última esperança de torcedor, exclama otimistamente: - Dá pra empatar. Temos três minutos É só fazer um gol por minuto!
Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
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