- Entre! - Licença. - Sente-se Seu Romualdo, mas antes arrume a cortina, por favor! - O dotô é bom mesmo! Já sabe até o meu nome... - Não me chame de doutor. Você marcou hora, esqueceu? - Ah é! - Tarô ou búzios? - Qual o melhor? - Búzios! Mas é mais caro... - Pode ser! Dinheiro não é problema... - Futuro? - Sim! - Problema com mulher ou emprego? - Os dois. O dotô é bom mesmo! Já sabe até porque vim até aqui. - Não me chame de doutor. A maioria dos homens procura-me por esses motivos... - É que estou em dúvida. Não sei se largo a minha esposa para ficar com a... Er... Ahn ... - Amante! Pode falar, não há mais ninguém fisicamente aqui. - Isso, dotô! Sou casado há dezoito anos e mantenho esse relacionamento por fora, digamos assim, há três... - Sei! Deixe-me jogar aqui... Splop! ploc! ploct! plop! Vamos ver... Vejo um filho! - Não tenho filhos. A minha esposa não pode ter filhos, dotô! - Quem disse que é a sua esposa? - Será a Laurinha? Não poder ser! Eu ter um filho terminaria de vez com o meu casamento e eu não sei se quero terminá-lo... - Quem disse que o filho é seu? - Mas, dotô! - Não me chame de doutor. Vejo que a sua amante pode engravidar, mas não disse que o filho será seu... - A Laurinha é de confiança, dotô! - Também não disse que não será. Apenas vejo um filho. - Ufa! Menos mal, dotô. Ou não? Nem sei mais! E o trabalho? - Sobre o trabalho... Splop! ploc! ploct! plop! Vejo pouca valorização... - Isso mesmo dotô! Atchim! Atchim! Desculpa. É o cheiro do incenso. Tenho rinite alérgica. - Saúde! - Obrigado! Sobre o meu trabalho é isso mesmo, dotô! Eu morro trabalhando e na hora de vir à recompensa, uma promoção, um aumento, o que acontece? Nada! A empresa está sempre em crise nestas horas... - Sei! Vou jogar de novo... Splop! ploc! ploct! plop! Vejo algo relacionado a estudo, escola... - Isso dotô! É o que eles sempre argumentam. Que eu tenho conhecimento, mas não tenho estudo. - É. O seu caso é grave mesmo! Vamos ter que fazer um trabalho forte para mudar esta situação. - Não me assusta dotô. Pelo amor de Deus! Mas tem solução? O que preciso fazer? - Não me chame de doutor. Tem solução! Vamos precisar fazer uns banhos, alguns caprichos, umas galinhas, trocar umas energias que te cercam. O material necessário é este aqui. O valor do serviço está embaixo. - Pelo amor de Deus, dotô! Tudo isso? - Eu garanto o resultado. Tudo muda para melhor em uma semana. Depende de você! No carro - E aí? Como foi? Conseguiu as respostas que buscava? - Quanta pergunta, José? - Pô! Nada mais justo. Estou te esperando faz um tempão, e além do mais, foi eu quem fez a indicação. - Está certo! Conseguiu sim! Respostas contundentes. Mas muito caros os serviços! - Ah! Isso é lógico! Os bons nesta área são caros. Mas pensa bem. Sabe como é. Com futuro não se brinca! - Pois é, mas eu não sei. Aliás, não tem outro para me indicar só para eu tirar “uma febre”?
Nota do Editor: Rodrigo Ramazzini é cronista.
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